10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

nos momentos <strong>em</strong> que Edna entra <strong>em</strong> contato com o mar” (ROSSI, 2010, p. 204). Ao<br />

aproximar água, círculo e <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, a escritora Kate Chopin poria seu romance <strong>em</strong><br />

contato com uma criação artística que t<strong>em</strong> feito uso “dessas três instâncias [...] desde<br />

t<strong>em</strong>pos im<strong>em</strong>oriais” (ROSSI, 2010, p. 205). Pautan<strong>do</strong>-se nas palavras de Bachelard, que<br />

afirma que “tu<strong>do</strong> o que escoa é água; tu<strong>do</strong> o que escoa participa da natureza da água”<br />

(BACHELARD, 1997, p. 121) (grifo <strong>do</strong> autor), Rossi destaca, como já havia feito Elaine<br />

Showalter, a singularidade da mulher ao reter <strong>em</strong> si diferentes formas de líqui<strong>do</strong>,<br />

asseguran<strong>do</strong>, portanto, a relação entre o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> e a água:<br />

[a] mulher carrega <strong>em</strong> seu corpo uma grande quantidade de líqui<strong>do</strong> sob várias<br />

formas: o leite materno, o sangue menstrual e, especialmente, o líqui<strong>do</strong><br />

amniótico que mantém submersa a vida gerada <strong>em</strong> seu útero. Leite, sangue e<br />

âmnio ligam-se à água pelo princípio da liquidez, por isso são seus símbolos<br />

(ROSSI, 2010, p. 205).<br />

Com relação ao romance de José Lins <strong>do</strong> Rego, <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, <strong>em</strong>bora a obra não<br />

possua – até onde nossas pesquisas d<strong>em</strong>onstram – uma fortuna crítica que explore o t<strong>em</strong>a<br />

aqui proposto – a água como espaço <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> –, uma vez que, como já foi ressalta<strong>do</strong>,<br />

é tida como obra que foge aos t<strong>em</strong>as mais aborda<strong>do</strong>s pelos críticos <strong>do</strong> escritor, por isso<br />

desprestigiada pela crítica, é possível também identificar uma forte presença das águas na<br />

evolução da protagonista da narrativa.<br />

Mesmo que de forma superficial, há qu<strong>em</strong> identifique no romance <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> a<br />

ligação entre Edna/Eduarda e a ambientação da costa brasileira, <strong>em</strong>bora não especifique<br />

o el<strong>em</strong>ento água como o ambiente propício para o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Chaman<strong>do</strong> atenção para a<br />

relação personag<strong>em</strong> e ambientação, Aurélio Buarque de Holanda afirma que:<br />

A heroína integra-se violentamente, com arrebata<strong>do</strong> amor, com absoluta<br />

paixão, na nova terra. A natureza envolve-a, <strong>do</strong>mina-a, e, sentin<strong>do</strong> o cheiro <strong>do</strong>s<br />

guagirus, ao sol forte <strong>do</strong> verão, entregue ao mar, Edna perderá por vezes a<br />

consciência de si própria, sentin<strong>do</strong>-se incorporada na paisag<strong>em</strong>, como um<br />

el<strong>em</strong>ento da natureza [...] Era à paisag<strong>em</strong> que ela se dava, s<strong>em</strong> noção de peca<strong>do</strong>,<br />

febrilmente, ardent<strong>em</strong>ente [...] Tu<strong>do</strong>, no livro, fala dessa fusão <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com<br />

o meio (HOLANDA, 1991, p. 357).<br />

161

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!