Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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papel de <strong>do</strong>na de casa. Aliás, as duas, Edna e Adèle, se diferenciam <strong>em</strong> outros aspectos<br />
também, que serão aborda<strong>do</strong>s no decorrer da análise <strong>do</strong> romance.<br />
O texto de Chopin é considera<strong>do</strong>, por diferentes críticos, como uma obra de<br />
cunho f<strong>em</strong>inista; desse mo<strong>do</strong>, a criação de uma personag<strong>em</strong> como Adèle seria uma<br />
afronta aos propósitos <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s f<strong>em</strong>inistas. E afirmamos que apenas seria porque a<br />
presença de Adèle é necessária para, primeiramente, mostrar que há uma variedade de<br />
mulheres na obra, refletin<strong>do</strong> a variedade f<strong>em</strong>inina <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> escrevia Kate<br />
Chopin. Ao discutir sobre as representações <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> dentro da Era Vitoriana, Sandra<br />
Gilbert e Susan Gubar listam as caracterizações mais correntes <strong>em</strong> relação à mulher<br />
daquele perío<strong>do</strong>: o anjo, a louca, a inválida, a f<strong>em</strong>me fatale, e a New Woman (1985, p. 985).<br />
Em segun<strong>do</strong> lugar, Adèle representa o estereótipo já sedimenta<strong>do</strong> sobre o<br />
comportamento <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> daquela sociedade da Era Vitoriana. Segun<strong>do</strong> Sarah M. Bear:<br />
[…] <strong>em</strong>bora possa parecer que Chopin não quisesse criar esse tipo de<br />
personag<strong>em</strong> no seu texto, este tipo de personag<strong>em</strong> é absolutamente necessário<br />
para d<strong>em</strong>arcar uma linha entre o tipo de mulheres que eram b<strong>em</strong> aceitas pelos<br />
padrões sociais e aquelas que não eram 104 (2009, p. 27 – 28).<br />
É o contraponto entre Adèle Ratignolle e Edna Pontellier que mostra o quanto<br />
esta t<strong>em</strong> de transgressora e o quanto ela rompe com tu<strong>do</strong> aquilo que Adèle representa: a<br />
Mulher-Mãe oitocentista identificada com a ma<strong>do</strong>na e pronta para qualquer sacrifício pela<br />
família, <strong>em</strong> suma, o “Anjo <strong>do</strong> lar”.<br />
De início, um fator que t<strong>em</strong> grande peso na constituição de Edna é o fato de ela<br />
não pertencer ao mesmo grupo étnico de seu mari<strong>do</strong> e de seus amigos. Dentro <strong>do</strong> círculo<br />
que se forma <strong>em</strong> Grand Isle e <strong>em</strong> New Orleans, v<strong>em</strong>os Edna cercada s<strong>em</strong>pre por Creoles.<br />
Moreira define esse grupo como indivíduos que “faziam parte da aristocracia [...] forte<br />
economicamente e forma<strong>do</strong>, <strong>em</strong> sua maioria, por comerciantes que <strong>do</strong>minavam o<br />
comércio e a vida social de New Orleans” (2003, p. 126). Enquanto os d<strong>em</strong>ais<br />
personagens são identifica<strong>do</strong>s ou como pertencentes a esse grupo creole ou não têm<br />
identificação com uma etnia <strong>em</strong> particular, Edna Pontellier é descrita como uma<br />
americana: “[Edna] Era uma mulher americana com um pouco de infusão francesa que<br />
104 “while it may se<strong>em</strong> that Chopin would not want to create this type of character in her text, this type of character<br />
is absolutely necessary to d<strong>em</strong>arcate the line between the type of women who are de<strong>em</strong>ed acceptable by society’s<br />
standards and those who are not”.<br />
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