Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
contos anteriores, e também t<strong>em</strong>os uma personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina que se alegra com a morte<br />
de seu mari<strong>do</strong>, idealizan<strong>do</strong> para si uma existência de liberdade <strong>em</strong> sua nova condição, a de<br />
viúva. Esse fato mostra que há uma autoconsciência aguda da condição f<strong>em</strong>inina no<br />
íntimo <strong>do</strong>s personagens <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s. Assim como ocorre nos <strong>do</strong>is outros volumes de<br />
contos, este focalizou as personagens f<strong>em</strong>ininas como t<strong>em</strong>a central. Em “Lilacs”<br />
seguimos três cenas que mostram a viúva Madame Adrienne Farival <strong>em</strong> meio a duas<br />
paisagens diferentes: o mun<strong>do</strong> cosmopolita e o ambiente rural. Já <strong>em</strong> “Fe<strong>do</strong>ra”, t<strong>em</strong>os<br />
uma dura mulher de trinta anos que se apaixona por um hom<strong>em</strong> mais jov<strong>em</strong> chama<strong>do</strong><br />
Malthers. Como ela não consegue mostrar a to<strong>do</strong>s a paixão pelo rapaz, ela exterioriza seu<br />
desejo dan<strong>do</strong> um beijo de língua (“[...] um longo e penetrante beijo <strong>em</strong> sua boca” 14<br />
(CHOPIN, 2006, p. 469)) na irmã <strong>do</strong> jov<strong>em</strong>, a qu<strong>em</strong> ela tinha i<strong>do</strong> buscar na estação de<br />
tr<strong>em</strong>.<br />
Quanto ao segun<strong>do</strong> romance da autora, O <strong>Despertar</strong>, ao comentar sobre a reação <strong>do</strong><br />
público leitor, t<strong>em</strong>os a seguinte consideração no livro The Harper American Literature:<br />
seus aprecia<strong>do</strong>res [leitores] se voltaram contra a escritora, o que não nos<br />
surpreende quan<strong>do</strong> pensamos que os mesmos leitores da classe média não<br />
aceitaram o romance A girl of the street de Stephen Crane <strong>em</strong> 1893 e rejeitariam o<br />
romance Sister Carrie de Theo<strong>do</strong>re Dreiser quan<strong>do</strong> ele apareceu <strong>em</strong> 1900” 15<br />
(MCQUADE, 1987, p. 1402).<br />
O público puritano americano não aceitou um enre<strong>do</strong> que trazia uma protagonista<br />
jov<strong>em</strong> e de bom nível social que se voltava contra a instituição <strong>do</strong> casamento e procurava,<br />
longe das paredes da casa, sua realização pessoal que levava <strong>em</strong> conta não só os desejos<br />
<strong>do</strong> corpo, mas, e a nossa ênfase recai aqui, seus desejos como ser humano. A trajetória de<br />
Edna Pontellier, a protagonista de O <strong>Despertar</strong>, <strong>em</strong> busca da realização pessoal, assustou o<br />
público leitor americano acostuma<strong>do</strong> com o estereótipo da mulher passiva e submissa ao<br />
hom<strong>em</strong>. Segun<strong>do</strong> Moreira, “[a] sociedade moralista norte americana de então [...] tirou<br />
não somente o livro, mas a autora, definitivamente, <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> editorial por tratar de<br />
t<strong>em</strong>as considera<strong>do</strong>s proibi<strong>do</strong>s” (2003, p. 85).<br />
14 “a long, penetrating kiss upon her mouth”.<br />
15 “[…] her previous appreciative audience rose against her, not surprising when one realizes that the same middleclass<br />
readership had been unable to accept Stephen Crane’s Maggie, a girl of the street in 1893 and would reject<br />
Theo<strong>do</strong>re Dreiser’s Sister Carrie when it appeared in 1900”.<br />
39