Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
identifica a possiblidade de se unir a ela, pois ele não consegue enxergá-la como uma<br />
mulher diferente das outras que o cercam.<br />
Os passos que Edna dá <strong>em</strong> direção à sua realização pessoal acabam fazen<strong>do</strong> com<br />
que a sua reputação seja questionada. E qu<strong>em</strong> v<strong>em</strong> lhe advertir sobre isso é aquela que é<br />
considerada o ideal de retidão, o ex<strong>em</strong>plo de mulher e mãe: Adèle Ratignolle. Mesmo<br />
receosa de ser identificada com o padrão de vida que Edna levava – “Não devo mais<br />
voltar a vê-la aqui; fui muito, muito imprudente hoje” 125 (CHOPIN, 1994, p. 127) –<br />
Madame Ratignolle chega até a sua amiga para lhe avisar sobre como t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> visto por<br />
to<strong>do</strong>s o comportamento dela. O maior me<strong>do</strong> da amiga é o fato de Edna morar só, s<strong>em</strong> a<br />
companhia de outra mulher e receben<strong>do</strong>, constant<strong>em</strong>ente, a visita de Arobin: “B<strong>em</strong>, o<br />
motivo... você sabe como o mun<strong>do</strong> é torpe... alguém an<strong>do</strong>u falan<strong>do</strong> sobre as visitas de<br />
Alcée Arobin” 126 (CHOPIN, 1994, p. 127). Do que aponta Madame Ratignolle, é-nos<br />
revelada a condição da mulher diante daquela sociedade: primeiro, não era permiti<strong>do</strong> à<br />
mulher morar sozinha s<strong>em</strong> a companhia de outra mulher que protegesse a sua reputação;<br />
segun<strong>do</strong>, esta mulher não poderia receber visitas n<strong>em</strong> de um hom<strong>em</strong> solteiro e n<strong>em</strong> de<br />
pessoas com má reputação. A visita de Adèle à nova casa da amiga ainda revela mais uma<br />
faceta <strong>do</strong> “Anjo <strong>do</strong> lar” que esta personag<strong>em</strong> representa. Não é por vontade própria que<br />
Madame Ratignolle v<strong>em</strong> advertir a amiga, mas por intervenção <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> que, como fica<br />
evidente na fala de Adèle, é qu<strong>em</strong> insinua o grave probl<strong>em</strong>a que Alcée pode trazer para<br />
uma mulher: “Monsieur Ratignolle esteve me contan<strong>do</strong> que apenas suas visitas [de Alcée]<br />
já bastam para arruinar a reputação de uma mulher” 127(CHOPIN, 1994, p. 127).<br />
O projeto de Edna para se tornar independente naufraga porque existe uma<br />
impossibilidade histórica intransponível à época. Não é só o fato de seu amor, Robert<br />
Lebrun, se negar a começar uma nova vida com ela que a faz se jogar no Golfo <strong>do</strong><br />
México, mas, também, a impossibilidade de aquela sociedade patriarcal permitir à mulher<br />
uma existência autônoma e independente da figura masculina. Assim sen<strong>do</strong>, não há, nos<br />
contornos da sociedade creole americana, lugar para uma mulher casada e mãe que procura<br />
“um teto to<strong>do</strong> seu”, uma realização pessoal, fora da instituição <strong>do</strong> casamento e longe da<br />
125 “I shan’t be able to come back and see you; it was very, very imprudent to-day” (CHOPIN, 2006, p. 980).<br />
126 “Well, the reason—you know how evil-minded the world is—some one was talking of Alcee Arobin visiting you”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 979).<br />
127 “Monsieur Ratignolle was telling me that his attentions alone are considered enough to ruin a woman’s name”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 979).<br />
128