Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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especial e diferente <strong>do</strong>s outros que cercavam Edna/Eduarda, passa a ser visto pela esposa<br />
como mais um conheci<strong>do</strong> desprovi<strong>do</strong> de grandiosidade, igualan<strong>do</strong>-se aos familiares dela.<br />
Nesse jogo, parece que nunca existiu Carlos, o grande redentor de Edna/Eduarda:<br />
A fuga de Saul, para Edna, fora um desastre. Carlos, afinal de contas, não tinha<br />
nada de grande para dizer-lhe. Ia com ele aos concertos, mas ouvia música<br />
como a maioria, s<strong>em</strong> aquela volúpia de Saul e de Ester. A música entrava <strong>em</strong><br />
Carlos e saía deixan<strong>do</strong>-o livre, liberto de seus poderes. Ele voltava <strong>do</strong>s<br />
concertos como entrava, o mesmo, s<strong>em</strong> uma mágoa, s<strong>em</strong> uma alegria a mais.<br />
Reparava <strong>em</strong> Saul como se transformava, como criava outra feição, outro<br />
s<strong>em</strong>blante (REGO, 2003, p. 111).<br />
Embora não haja, via narra<strong>do</strong>r ou através da própria Edna/Eduarda, pistas que<br />
mostr<strong>em</strong> um envolvimento mais íntimo entre a protagonista e Saul, é através <strong>do</strong>s<br />
pensamentos de Carlos, utiliza<strong>do</strong>s pelo narra<strong>do</strong>r, que uma suspeita sobre a ligação <strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>is é levantada. Em um momento de raiva da mulher e possuí<strong>do</strong> pelo álcool, Carlos<br />
analisa o comportamento da mulher: “Aquela cara era de prazer pelos outros, de gozo <strong>em</strong><br />
se sentir pegada a outro corpo que não era o seu. E a amizade com Saul, as conversas<br />
sobre música, aqueles concertos, tu<strong>do</strong> não passava de traição” (REGO, 2003, p. 192).<br />
Como estes pensamentos <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> surg<strong>em</strong> <strong>em</strong> um momento de raiva e ciúme, eles não<br />
são totalmente confiáveis.<br />
O <strong>em</strong>barcadiço Nô é o único hom<strong>em</strong> por qu<strong>em</strong> Edna/Eduarda sente-se<br />
sexualmente atraída. Se <strong>em</strong> Carlos ela vê uma possibilidade de fugir <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> s<strong>em</strong><br />
perspectiva <strong>em</strong> que vive, e se <strong>em</strong> Saul ela encontra o amigo com qu<strong>em</strong> possa dividir o seu<br />
gosto pela música, é <strong>em</strong> Nô que ela identifica a razão de seus desejos sexuais:<br />
A vida de Edna começou a ser outra. S<strong>em</strong> saber explicar direito, havia uma<br />
coisa dentro dela, uma espécie de preocupação constante, um desejo oculto que<br />
a <strong>do</strong>minava.<br />
[...] Um hom<strong>em</strong> que era o seu oposto <strong>em</strong> tu<strong>do</strong>, mestiço, ignorante, estava<br />
toman<strong>do</strong> conta dela, como um sonho esquisito (REGO, 2003, p. 200).<br />
Ao comparar os outros <strong>do</strong>is homens de qu<strong>em</strong> ela já se aproximara, Carlos e Saul,<br />
Edna/Eduarda percebe que Nô “[e]ra o primeiro que lhe aparecia assim com aquela<br />
força” (REGO, 2003, p. 221). Em Saul, ela identifica apenas a companhia e a conversa<br />
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