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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

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meninos. Uma mulher mandava na vida, uma mulher <strong>do</strong>minava a vida, o amor, a alegria,<br />

as <strong>do</strong>res <strong>do</strong>s homens” (REGO, 2003, p. 304).<br />

Dentro da representação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, os rios apresenta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong><br />

simbolizam o caminho, ou, para usar uma terminologia mais adequada à crítica f<strong>em</strong>inista,<br />

constitu<strong>em</strong> o que Beauvoir (1980) denomina de destino de mulher: um caminho/destino<br />

estreito e igual para todas as mulheres – sejam elas suecas ou brasileiras; sejam mora<strong>do</strong>ras<br />

de burgos, de cabanas ou de mansões. É desse caminho que Edna/Eduarda procura fugir<br />

ao deixar a família para viver com Carlos, primeiramente; e, depois, ao deixar a pacata<br />

Suécia s<strong>em</strong> atrativos para vir residir no Brasil instigante e convidativo; e, finalmente, ao se<br />

entregar ao mar <strong>em</strong> busca <strong>do</strong> sol que nasce e <strong>do</strong> seu objeto de desejo, no final <strong>do</strong><br />

romance. Uma vez que as águas fluviais pod<strong>em</strong> ser lidas como representação simbólica <strong>do</strong><br />

<strong>f<strong>em</strong>inino</strong> estereotipa<strong>do</strong>, entende-se o porquê destas águas ter<strong>em</strong> a conotação de morte,<br />

isto é: entregar-se a estas águas seria uma forma de a personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina matar o que há<br />

de mais singular <strong>em</strong> sua personalidade, que é o desejo de conquistar algo para si, mesmo<br />

que n<strong>em</strong> ela mesma soubesse definir o que seria, e mesmo que ele se materializasse, nas<br />

três partes <strong>do</strong> romance, <strong>em</strong> três alvos distintos – Ester, o mar e Nô.<br />

Ao explorar a relação entre paisag<strong>em</strong> e personag<strong>em</strong> nos romances de José Lins,<br />

Virgínius da Gama e Melo mostra que “[a]s personag<strong>em</strong> viv<strong>em</strong> na agonia dessa<br />

incrustação [com o ambiente da narrativa], na ânsia de integração ao mun<strong>do</strong> ambiente”<br />

(MELO, 1980, 119 – 120). No que se refere ao romance <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, a protagonista da<br />

narrativa procura de todas as formas criar uma integração entre ela e o el<strong>em</strong>ento<br />

específico da ambientação da narrativa – o mar. Com relação à representação <strong>do</strong> mar<br />

como espacialidade propícia para o desabrochar de Edna/Eduarda, perceb<strong>em</strong>os que,<br />

nesse el<strong>em</strong>ento da paisag<strong>em</strong> <strong>do</strong> romance, José Lins <strong>do</strong> Rego criou uma “ligação entre a<br />

terra [a paisag<strong>em</strong>] e a personag<strong>em</strong>”, mostran<strong>do</strong> uma “harmonia entre ser e funcionalidade<br />

paisagística” (MELO, 1980, 117). Sen<strong>do</strong> mais importante para a protagonista <strong>do</strong> que as<br />

águas fluviais, as águas <strong>do</strong> mar carregam <strong>em</strong> si os três t<strong>em</strong>as <strong>do</strong>minantes de que nos fala o<br />

Dicionário de símbolos: elas são “fonte de vida, meio de purificação, centro de<br />

regenerescência” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 15). Edna/Eduarda foge<br />

das águas <strong>do</strong>s rios e <strong>do</strong> que elas representam e encontra nas águas salgadas <strong>do</strong> mar um<br />

“reservatório de energia” para “carregar-se” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p.<br />

15), um lugar para renascer: “Foram-se os anos, ela crescera, sofrera, era aquela Edna alta,<br />

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