Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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t<strong>em</strong>po passa, ten<strong>do</strong> como ápice a aversão ao toque <strong>do</strong> esposo. O último contato sexual<br />
entre eles acontece s<strong>em</strong>elhante a um estupro, uma vez que Edna/Eduarda já não<br />
consegue suportar o contato com Carlos: “O mari<strong>do</strong> dera nela, fora espancada e, pior <strong>do</strong><br />
que espancada, possuída por ele. Fora roubada [...] A eternidade, o nojo eterno de um<br />
hom<strong>em</strong> que <strong>do</strong>rmia, bêba<strong>do</strong>, de barba grande” (REGO, 2003, p. 269).<br />
Ao longo de toda a narrativa, Edna/Eduarda aponta como único motivo para sua<br />
união com Carlos a chance de fugir <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> onde ela nasceu. Mas, quan<strong>do</strong> já está<br />
inserida <strong>em</strong> uma terra nova, quan<strong>do</strong> já encontra um hom<strong>em</strong> a qu<strong>em</strong> ame, ela não<br />
consegue se libertar totalmente <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Em momento algum, ela procura pôr fim ao<br />
casamento deles. Ao que parece, Edna/Eduarda t<strong>em</strong> a certeza de que está ligada a Carlos<br />
de forma incontestável, mesmo saben<strong>do</strong> que não o ama e que deseja outro hom<strong>em</strong>:<br />
“L<strong>em</strong>brava-se <strong>do</strong> seu casamento, <strong>do</strong> padre católico: casada para s<strong>em</strong>pre, mari<strong>do</strong> e mulher<br />
para s<strong>em</strong>pre [...] Estava lá na cama o hom<strong>em</strong> que devia ser o seu mari<strong>do</strong> eterno. Com ele<br />
teria que viver o resto <strong>do</strong>s seus dias” (REGO, 2003, p. 269).<br />
O segun<strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com qu<strong>em</strong> Edna/Eduarda t<strong>em</strong> forte ligação é Saul, um<br />
engenheiro amigo de Carlos. É com ele que Edna/Eduarda frequenta concertos e fala<br />
sobre música. Saul é mais uma projeção que a protagonista faz da sua professora. Como<br />
ela, o engenheiro é judeu e gosta muito de música. Em diferentes ocasiões, ela iguala o<br />
jov<strong>em</strong> engenheiro à sua professora:<br />
A música para ele [Saul] era alimento, estimulante, paixão, uma força que se<br />
confundia com a força de Deus.<br />
Edna se l<strong>em</strong>brava de que Ester era assim também, ia para a música como para<br />
um culto [...] O Deus de Ester e de Saul penetrava de casa adentro, ia atrás das<br />
almas, nas suas maiores profundezas, nos seus mais recônditos esconderijos<br />
(REGO, 2003, p. 111).<br />
É Saul o responsável, assim como faz Ester anteriormente no espaço <strong>do</strong> burgo,<br />
por tornar a estadia de Edna/Eduarda <strong>em</strong> Estocolmo um t<strong>em</strong>po agradável. Com a partida<br />
dele, a protagonista sente-se só e não encontra mais a mesma alegria no convívio com o<br />
mun<strong>do</strong> da música. A ausência <strong>do</strong> amigo ainda faz com que Edna/Eduarda veja o mari<strong>do</strong><br />
como diferente de Saul e, consequent<strong>em</strong>ente, de Ester. É a partir deste momento que<br />
Carlos começa a ser identifica<strong>do</strong> como mais uma pessoa que não causa atração na<br />
protagonista. Cria-se um jogo de ironia, uma vez que Carlos, que já foi considera<strong>do</strong><br />
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