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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

Ao comentar sobre a posição da mulher na formação da família burguesa <strong>do</strong> final<br />

<strong>do</strong> século XIX, Nadilza Moreira afirma que “o discurso sobre a ‘natureza f<strong>em</strong>inina’”<br />

identifica na mulher duas possibilidades de caracterização: “quan<strong>do</strong> maternal e dedicada,<br />

[é definida] como força <strong>do</strong> b<strong>em</strong> – o ‘anjo <strong>do</strong> lar’. Por outro la<strong>do</strong>, ela é também potência<br />

<strong>do</strong> mal” (2003, p. 30). Nas representações artísticas que segu<strong>em</strong> o modelo patriarcal, a<br />

figura da mulher oscilou entre uma e outra, como se o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> pudesse ser resumi<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

duas categorias tão opostas. Num jogo dialógico, essa postura de representar o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong><br />

como duas faces de uma mesma moeda influencia o mo<strong>do</strong> como as mulheres são vistas<br />

no mun<strong>do</strong> real. Sobre esse assunto, Bonnici afirma que:<br />

É importante notar que a maneira pela qual as mulheres são forçadas a assumir<br />

papéis fixos e predetermina<strong>do</strong>s como personagens de ficção ajuda os leitores a<br />

analisar<strong>em</strong> o quanto esses estereótipos limitam as mulheres na vida real<br />

(BONNICI, 2007, p 79).<br />

Em determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da literatura ocidental, principalmente o século XVIII,<br />

ao enfocar a personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina, o romance oferece-lhe, comumente, o espaço da casa,<br />

dan<strong>do</strong>-lhe como papel principal a ocupação <strong>do</strong> lar e da família. Seu espaço fica restrito ao<br />

limita<strong>do</strong>, ao espaço fecha<strong>do</strong> e priva<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> na produção romanesca a ideologia da<br />

<strong>do</strong>mesticidade. Este tipo de personag<strong>em</strong> se insere no que Simone de Beauvoir (1980)<br />

denomina de destino de mulher e no que Virginia Woolf caracteriza como “Anjo <strong>do</strong> lar”<br />

(2004): são mulheres identificadas como mães, genitoras, boas esposas, senhoras<br />

ex<strong>em</strong>plares. Percebe-se que a criação literária procura dar às mulheres um caráter<br />

disciplinar, uma vez que s<strong>em</strong>pre as põe inseridas <strong>em</strong> um contexto patriarcal, cuja visão<br />

androcêntrica faz com que essas personagens sejam submissas à vontade masculina e<br />

sigam s<strong>em</strong>pre o ideal de mulher que esta mesma sociedade criou. É nessa representação<br />

<strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> que a literatura mantém um diálogo com as práticas sociais <strong>do</strong>s contextos<br />

patriarcais da História humana, recrian<strong>do</strong> <strong>em</strong> suas páginas práticas sociais que há muitos<br />

anos se arraigaram.<br />

Seguin<strong>do</strong> o pensamento de Moreira, perceb<strong>em</strong>os que a literatura criou, também,<br />

um grupo de personagens que foge a essa regra. Embora <strong>em</strong> menor número, essa<br />

representação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> constitui mais um parâmetro de análise das relações de gênero<br />

que nossa sociedade mol<strong>do</strong>u. No que se refere ao segun<strong>do</strong> grupo de personagens<br />

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