10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

aplicadas a esse trecho, uma vez que ele repete, com algumas alterações vocabulares, mas<br />

não s<strong>em</strong>ânticas, o que é posto na citação anterior.<br />

A repetição de uma palavra ao longo da narrativa, para ratificar o poder <strong>do</strong> mar,<br />

mostra o papel relevante que as qualidades deste el<strong>em</strong>ento natural t<strong>em</strong> <strong>em</strong> despertar<br />

simpatia e desejo na protagonista <strong>do</strong> romance. A palavra “sedução” ainda sintetiza to<strong>do</strong>s<br />

os outros adjetivos usa<strong>do</strong>s para se referir ao poder de persuasão <strong>do</strong> mar, uma vez que um<br />

<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s que essa palavra possui diz respeito ao poder de convencer o outro. Assim<br />

sen<strong>do</strong>, o mar, metonimicamente representa<strong>do</strong> pela melodia e/ou pelo aroma, é capaz de<br />

fazer Edna errar pelos seus abismos de solidão, ou seja, pelo caminho que a distancia,<br />

como mostramos no capítulo anterior, <strong>do</strong> que é espera<strong>do</strong> para o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>.<br />

A representação <strong>do</strong> mar como amante persuasivo pode ser identificada, ainda,<br />

quan<strong>do</strong> Edna, convidada por Robert, recusa a tomar banho de mar. A forma como o<br />

narra<strong>do</strong>r conduz esta cena cria uma identificação entre a figura <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> Robert Lebrun<br />

que instiga Edna Pontellier a entrar na água, gritan<strong>do</strong> para ela, e o mar que, através da voz<br />

que só a heroína ouve, também a convida para nele se banhar:<br />

– Não vai se banhar? – perguntou Robert à Sra. Pontellier. Era menos uma<br />

pergunta <strong>do</strong> que um l<strong>em</strong>brete.<br />

– Oh, não – respondeu <strong>em</strong> tom indeciso – Estou cansada; creio que não. Seu<br />

olhar desviou <strong>do</strong> rosto dele para o Golfo, cujo murmúrio harmonioso chegavalhe<br />

como uma súplica amorosa, <strong>em</strong>bora imperativa.<br />

– Oh, venha! – insistiu ele. – Você não deve perder o seu banho [...] 173<br />

(CHOPIN, 1994, p. 25).<br />

O mar ainda ganha teor erótico, <strong>em</strong> <strong>do</strong>is diferentes capítulos, quan<strong>do</strong> o narra<strong>do</strong>r,<br />

não mais usan<strong>do</strong> o termo “sedutor(a)”, refere-se a este el<strong>em</strong>ento líqui<strong>do</strong> valen<strong>do</strong>-se de<br />

outra imag<strong>em</strong> que também o personifica: “A voz <strong>do</strong> mar fala para a alma. O toque <strong>do</strong> mar<br />

é sensual e estreita 174 o corpo <strong>em</strong> seu suave e envolvente abraço” 175 (CHOPIN, 1994, p.<br />

26) e “O toque <strong>do</strong> mar é sensual, apertan<strong>do</strong> o corpo <strong>em</strong> seu suave e envolvente<br />

173 “Are you going bathing?” asked Robert of Mrs. Pontellier. It was not so much a question as a r<strong>em</strong>inder.<br />

“Oh, no,” she answered, with a tone of indecision. “I’m tired; I think not.” Her glance wandered from his face away<br />

toward the Gulf, whose sonorous murmur reached her like a loving but imperative entreaty.<br />

“Oh, come!” he insisted. “You mustn’t miss your bath […]” (CHOPIN, 2006, p. 892).<br />

174 Mantiv<strong>em</strong>os aqui o mo<strong>do</strong> como Celso M. Paciornik traduziu este trecho da obra The awakening para o português;<br />

mas quer<strong>em</strong>os destacar que, no original, os <strong>do</strong>is trechos são exatamente iguais.<br />

175 “The voice of the sea speaks to the soul. The touch of the sea is sensuous, enfolding the body in its soft, close<br />

<strong>em</strong>brace” (CHOPIN, 2006, p. 893).<br />

172

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!