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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

Hildeberto Barbosa Filho afirma que a repetição <strong>em</strong> José Lins <strong>do</strong> Rego é “uma estratégia<br />

consciente <strong>do</strong> escritor [...], portanto, bastante funcional” (FILHO, 2011, p. 25). Além de<br />

recurso estilístico, o crítico mostra que ela, “[...] e outra parte, r<strong>em</strong>ete para a possibilidade<br />

de aproximação <strong>do</strong> texto popular, marcadamente redundante, pelo texto erudito,<br />

comprometi<strong>do</strong>, por sua vez, com as exigências modernas da oralidade” (FILHO, 2011, p.<br />

25). Em <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, este recurso aparece <strong>em</strong> diferentes partes da narrativa. No segun<strong>do</strong><br />

capítulo, da última parte <strong>do</strong> livro, uma palavra, <strong>em</strong> especial, é utilizada várias vezes:<br />

Deserto. Ela serve para mostrar como o que já se constituíra a grande paixão de<br />

Edna/Eduarda, o <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, agora é transforma<strong>do</strong>, graças à certeza de que ela troca de<br />

objeto ama<strong>do</strong>, <strong>em</strong> algo desvaloriza<strong>do</strong>. As passagens a seguir reforçam esta ideia: “A<br />

saudade <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> lhe dava alegria e corag<strong>em</strong> para viver no deserto” (REGO, 2003, p.<br />

265) e “Perdera a vida. Agora era o deserto contínuo, o areal, as ventanias incessantes, o<br />

silêncio mortal” (REGO, 2003, p. 267).<br />

Como já apontamos, o romance é dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> três partes – Ester, <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> e<br />

Nô. Cada uma dessas partes se refere às grandes paixões de Edna/Eduarda. No momento<br />

<strong>em</strong> que ela percebe que há algo maior <strong>do</strong> que <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, algo que é capaz de preenchê-<br />

la completamente, ela desvaloriza o lugar, identifican<strong>do</strong> to<strong>do</strong> ele como um deserto, e<br />

passa a exaltar seu novo objeto de desejo – Nô. Assim, Edna/Eduarda começa<br />

caracterizar <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> como um lugar s<strong>em</strong> vida, ári<strong>do</strong> e vazio: “O mar, a praia, tu<strong>do</strong><br />

um deserto de seres humanos. Nenhum sinal de vida. Só ela e aquela imensidão que a<br />

vista não alcançava. Viera cair num deserto” (REGO, 2003, p. 219). Além de mostrar a<br />

mudança operada <strong>em</strong> Edna/Eduarda, quanto aos seus sentimentos, ao caracterizar tu<strong>do</strong><br />

como deserto, ela ressalta a sua solidão diante de tu<strong>do</strong>. Mas a presença de Nô v<strong>em</strong> para<br />

preencher o que falta na protagonista. Ao la<strong>do</strong> dele, já não há mais desertos e tu<strong>do</strong> ganha<br />

uma significação positiva:<br />

O t<strong>em</strong>po correu para Edna com uma velocidade de espantar. Vieram as festas,<br />

foram-se os dias de verão, chegaram as chuvas torrenciais, dias belos e azuis<br />

suceden<strong>do</strong> a outros tristes, sujos, encharca<strong>do</strong>s. E tu<strong>do</strong>, para ela, rápi<strong>do</strong>, s<strong>em</strong><br />

que sentisse o peso, a monotonia, a insipidez das coisas. Era feliz. Suportava<br />

tu<strong>do</strong> de corpo leve, alma solta das alg<strong>em</strong>as de outrora. Era amante de Nô. Só<br />

isso explicava tu<strong>do</strong>. Só ele lhe dera até aquele instante segurança de viver, b<strong>em</strong>estar.<br />

E no entanto sofrera muito para chegar àquilo. Era amante <strong>do</strong> hom<strong>em</strong><br />

sonha<strong>do</strong> (REGO, 2003, p. 245).<br />

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