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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

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procura de amantes, Amélia d<strong>em</strong>onstra, mais uma vez, que as mulheres, espelhan<strong>do</strong> a<br />

visão <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong>, aceitam dividir<strong>em</strong> os mari<strong>do</strong>s com outras. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o<br />

trecho <strong>do</strong>s pensamentos de Amélia revela o quanto Lula se mantinha distante de to<strong>do</strong>s<br />

que não foss<strong>em</strong> <strong>do</strong> seu nível social.<br />

Já a mulher vinda da classe subalterna, seja branca ou negra, além de se constituir<br />

uma propriedade <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>, ainda t<strong>em</strong> que se juntar a ele na produção de bens, seja para<br />

o sustento familiar ou para o crescimento de um império. A esta mulher está reserva<strong>do</strong><br />

um espaço ainda menor. Não é no espaço to<strong>do</strong> da casa que ela pode ficar, mas <strong>em</strong> uma<br />

pequena parte dela: a cozinha. Os personagens Vitorino e José Amaro, <strong>do</strong>is<br />

representantes da classe <strong>do</strong>s homens brancos desprovi<strong>do</strong>s de dinheiro, delimitam a parte<br />

da casa reservada à mulher. O capitão Vitorino, ao ser surpreendi<strong>do</strong> pela esposa no meio<br />

de mais um delírio, assim fala para ela: “Que sonhan<strong>do</strong>, que coisa nenhuma. Vai para a<br />

tua cozinha e me deixa na sala” (REGO, 1998, p. 242). Embora não use a palavra cozinha<br />

<strong>em</strong> sua fala, o mestre José Amaro, queren<strong>do</strong> afastar a mulher Sinhá, manda que esta deixe<br />

o espaço <strong>em</strong> que ele se encontra, a parte de fora da casa, para ir se preocupar com o que a<br />

ela está destina<strong>do</strong>: “– Vai cuidar das tuas obrigações. Me deixa, mulher. A velha voltou<br />

para dentro de casa” (REGO, 1998, p. 62). A própria Sinhá, num momento de nojo <strong>do</strong><br />

mari<strong>do</strong>, volta-se para o lugar da casa onde poderia ficar afastada de Amaro: “Não pode<br />

chegar-se para perto <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> [...] Um nojo terrível tomou conta dela [...] [Sinhá] Fugiu<br />

para a cozinha” (REGO, 1998, p. 87).<br />

Havia ainda as mulheres que se tornavam prostitutas e faziam <strong>do</strong> corpo a única<br />

possibilidade de vida. Nas relações de poder criadas pelos engenhos, essas mulheres<br />

tinham um estigma maior, pois a elas não era permitida uma ligação reconhecida<br />

socialmente com algum hom<strong>em</strong>. Elas tinham consciência que só podiam estar junto <strong>do</strong>s<br />

homens por certo espaço de t<strong>em</strong>po e que deviam tirar o máximo proveito dessa relação<br />

momentânea. Ainda entre estas mulheres que vendiam o corpo havia uma hierarquia de<br />

valores que fazia com que umas foss<strong>em</strong> mais cotadas <strong>do</strong> que outras, mostran<strong>do</strong> que essa<br />

condição <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> era vista como uma merca<strong>do</strong>ria. Dessa categoria <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>,<br />

apenas uma de suas representantes consegue voz na narrativa. Trata-se de Clarinda, a<br />

amante de Dr. Juca de Melo, <strong>do</strong> romance Usina.<br />

Quanto à representação da mulher de cor nos romances de José <strong>do</strong> Rego, v<strong>em</strong>os<br />

que esta parcela possui mais um agravante que a põe <strong>em</strong> situação ainda mais rebaixada no<br />

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