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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

O ostracismo da personag<strong>em</strong> é que lhe assegura a individualidade. A pianista se<br />

distancia da sexualidade, <strong>do</strong> amor, da f<strong>em</strong>inilidade e da companhia <strong>do</strong>s outros para<br />

manter-se viva artisticamente e independente de uma figura masculina. Dessa maneira,<br />

Mad<strong>em</strong>oiselle Reisz não pode ser identificada como vitoriosa com seu estilo de vida. Ela<br />

perde algo no mesmo instante que consegue uma conquista. De acor<strong>do</strong> com Jules<br />

Chametzky, a existência autônoma de Reisz é ganha devi<strong>do</strong> à sua “renúncia à carne e às<br />

convenções <strong>do</strong>s relacionamentos humanos” 139 (CHAMETZKY, 1994, p. 222).<br />

Em suma, Mad<strong>em</strong>oiselle Reisz não possui nada <strong>do</strong> idílico estereótipo <strong>do</strong> gênero<br />

<strong>f<strong>em</strong>inino</strong> cria<strong>do</strong> pelo patriarca<strong>do</strong> e exalta<strong>do</strong> dentro daquela sociedade creole apresentada no<br />

romance de Kate Chopin. Ela, ao contrário, é identificada como o oposto de tu<strong>do</strong> que<br />

esse estereótipo representa. Segun<strong>do</strong> Bear, “a identidade de Reisz como um ser social<br />

viável é claramente posto <strong>em</strong> questão no decorrer <strong>do</strong> romance porque ela não imita as<br />

expectativas patriarcais de um ser <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> gendra<strong>do</strong>” 140 (2009, p. 30).<br />

Como apontam alguns críticos (BEAR, 2009, p. 32 – 33), o fator sexual parece ser<br />

o maior diferencial entre as três mulheres. Mas não é só este ponto que diferencia as três.<br />

Há, também, o fator comportamental. Como Adèle se comporta de acor<strong>do</strong> com os<br />

padrões estabeleci<strong>do</strong>s para a mulher de sua época, ela é identificada como o modelo<br />

aceitável. Além de se comportar como o espera<strong>do</strong> pela sociedade, Adèle Ratignolle ainda<br />

aceita esse tipo de comportamento e procura fazer com que Edna siga o mesmo modelo.<br />

Mas, como Edna deseja algo além <strong>do</strong> que lhe é imposto, ela quebra com tu<strong>do</strong> o que Adèle<br />

representa e procura criar para si uma nova perspectiva de vida. Em sua busca existencial,<br />

Edna não quer para si o que representa a <strong>em</strong>ancipada Reisz. O ostracismo e a falta de<br />

reconhecimento social, que tão b<strong>em</strong> caracterizam Mad<strong>em</strong>oiselle Reisz, são atributos que<br />

não correspond<strong>em</strong> ao ideal que Edna busca.<br />

Se Edna faz uma análise de sua vida, como mulher, ela também analisa a condição<br />

de outras mulheres, como Reisz e Adèle. Ao não querer ser como Adèle, a mulher <strong>do</strong> lar,<br />

e não se identificar com a vida de Reisz, a figura <strong>do</strong> ostracismo, Edna exige para si uma<br />

nova forma de existência, que n<strong>em</strong> mesmo ela consegue nomear, pois é algo que não<br />

possui forma exata na sociedade <strong>em</strong> que ela se encontra inserida.<br />

139 “renunciation of the flesh and, of conventional human relationships”.<br />

140 “Reisz’s identity as a socially viable being is clearly called into question throughout the novel because she <strong>do</strong>es not<br />

conform to patriarchal expectations of a f<strong>em</strong>ale gendered being”.<br />

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