Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
inadequação entre as aspirações <strong>do</strong> herói e os resulta<strong>do</strong>s de sua ação” (GOUVEIA, 2008,<br />
p. 105). Segun<strong>do</strong> Lukács, foram “os estetas <strong>do</strong> primeiro Romantismo” (LUKÁCS, 2009,<br />
p. 74) os primeiros a reconhecer como ironia o processo de “autorreconhecimento, ou<br />
seja, a autossuperação da subjetividade” (LUKÁCS, 2009, p. 74) <strong>do</strong> herói como a ironia<br />
estrutural <strong>do</strong> romance. Nas palavras de Georg Lukács,<br />
significa ela [a ironia estrutural <strong>do</strong> romance] uma cisão interna <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong><br />
normativamente cria<strong>do</strong>r <strong>em</strong> uma subjetividade como interioridade, que faz<br />
frente a complexos de poder alheios e <strong>em</strong>penha-se por impregnar o mun<strong>do</strong><br />
alheio com os conteú<strong>do</strong>s de sua aspiração, e uma subjetividade que desvela a<br />
abstração e portanto a limitação <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s reciprocamente alheios <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong><br />
e <strong>do</strong> objeto, que os compreende <strong>em</strong> seus limites, concebi<strong>do</strong>s como<br />
necessidades e condicionamentos de sua existência, e que, mediante esse<br />
desvelamento, ainda que mantenha intacta a dualidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po vislumbra e configura um mun<strong>do</strong> unitário no condicionamento<br />
recíproco <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos essencialmente alheios entre si (LUKÁCS, 2009, p.<br />
75).<br />
Em sua Teoria <strong>do</strong> romance, Lukács parte <strong>do</strong> herói épico para caracterizar o herói<br />
romanesco. Na História da Literatura Ocidental, o herói épico s<strong>em</strong>pre foi identifica<strong>do</strong> na<br />
figura masculina. Onde estaria a figura da heroína nas epopeias? Seria ela Helena de Tróia,<br />
a mulher cujo rapto provocou a guerra? Ou Andrômaca, a que sofreu com a morte <strong>do</strong><br />
esposo? Ou Hécuba, que viu toda a sua família ser destruída juntamente com seu reino?<br />
Ou talvez Penélope, a esposa paciente que soube esperar o mari<strong>do</strong> durante vinte anos? A<br />
mulher, <strong>em</strong>bora faça parte <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> e nele atue, não se constitui a protagonista <strong>do</strong> texto<br />
épico.<br />
Ao discorrer sobre o papel <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> nas narrativas épicas, Claudio Melo e<br />
Souza mostra que não é apenas no tipo de personagens que elas se diferenciam <strong>do</strong><br />
masculino. O destaque da<strong>do</strong> à caracterização das mulheres, principalmente das mortais,<br />
<strong>em</strong> contraste com as deusas, também se distancia da <strong>do</strong>s homens. Segun<strong>do</strong> o estudioso:<br />
Repito que, <strong>em</strong> relação às mulheres mortais, porém, cham<strong>em</strong>-se elas Helena,<br />
Penélope ou Andrômaca, Homero é s<strong>em</strong>pre recata<strong>do</strong>, poupan<strong>do</strong> detalhes [...].<br />
Já <strong>em</strong> relação aos heróis, o poeta sente-se um pouco mais à vontade, fazen<strong>do</strong>-se<br />
segui<strong>do</strong>s elogios à nobreza <strong>do</strong> porte, à imponência da altura, aos cabelos louros,<br />
aos pés brilhantes, às sandálias (SOUZA, 2001, p. 245).<br />
72