Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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Ela anda aí pela praia na companhia de um vagabun<strong>do</strong>. Um <strong>em</strong>barcadiço que<br />
vive de cantorias. Não é direito (REGO, 2003, 278).<br />
Na constituição da trama narrativa, Helena funciona como uma personag<strong>em</strong><br />
antípoda a Edna/Eduarda, isto é, a americana se afasta de tu<strong>do</strong> o que a sueca representa<br />
na sociedade praieira onde o romance se passa.<br />
A ligação afetiva entre Ester e Edna/Eduarda foi explorada anteriormente,<br />
quan<strong>do</strong> focalizamos a atração platônica que a protagonista nutre pela professora Ester.<br />
Nesta parte <strong>do</strong> nosso trabalho, enfocar<strong>em</strong>os o mo<strong>do</strong> como Ester se distancia de<br />
Edna/Eduarda. A professora não corresponde ao amor que a protagonista sente. Em<br />
nenhum momento da narrativa t<strong>em</strong>-se a d<strong>em</strong>onstração de que Ester percebe Edna como<br />
algo diferente de aluna e amiga. Diante da tentativa de suicídio de Edna/Eduarda, Ester<br />
sequer entende o porquê de sua aluna atentar contra a própria vida: “Por que morrer,<br />
Eduarda, quan<strong>do</strong> havia <strong>em</strong> ti a vida, uma tão rara compreensão das coisas?” (REGO,<br />
2003, p. 98). A tentativa de suicídio afasta as duas espacialmente, uma vez que Ester volta<br />
para Estocolmo e, depois, vai para a Argentina. Três anos depois da tentativa de suicídio,<br />
uma carta que a professora manda da Argentina apenas mostra o quanto as duas estão<br />
afetivamente distantes, uma vez que, a cada leitura das palavras de Ester, a protagonista<br />
enxerga diferenças na amiga: “De cada vez que acabava de ler, uma nova Ester aparecia.<br />
Uma nova mulher vinha de longe para substituir uma imag<strong>em</strong> que gravara na sua<br />
m<strong>em</strong>ória” (REGO, 2003, p. 101). No final, a sua ex-professora torna-se o modelo que, na<br />
a<strong>do</strong>lescência, Edna menos queria para si: o modelo de esposa e mãe, viven<strong>do</strong> para o<br />
mari<strong>do</strong> e para os filhos, s<strong>em</strong> se dedicar a uma profissão.<br />
Levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta a etimologia <strong>do</strong> nome da professora, Ester funciona como uma<br />
estrela guia para Edna/Eduarda: “Ester atua como sopro de vida para Edna, dan<strong>do</strong>-lhe<br />
corag<strong>em</strong> para tentar a liberdade e ser feliz” (MARQUES JR. e MARINHEIRO, 1990, p.<br />
142). Suas ações na narrativa mostram que ela instrui a jov<strong>em</strong>; apresenta uma vida<br />
diferente daquela vivida por Edna/Eduarda no burgo; introduz a aluna nas artes – música<br />
e poesia; além de provocar na jov<strong>em</strong> o encantamento e o desgosto da descoberta de uma<br />
paixão platônica. As ocorrências da vida retiram a jov<strong>em</strong> professora <strong>do</strong> pequeno povoa<strong>do</strong><br />
onde morava Edna/Eduarda e tal fato obriga a protagonista a achar o seu caminho s<strong>em</strong><br />
ajuda de sua estrela guia.<br />
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