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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

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decadência <strong>do</strong> engenho. Os capítulos restantes estão centra<strong>do</strong>s nos pensamentos de D.<br />

Amélia. E é deles que se tira a essência da realidade <strong>do</strong> Santa Fé e da família de Lula de<br />

Holanda. É bom l<strong>em</strong>brar que, durante os seis capítulos que compõ<strong>em</strong> essa segunda parte,<br />

apenas esporadicamente aparece a voz de Lula. E quan<strong>do</strong> isso acontece é para provar que<br />

os pensamentos <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> não consegu<strong>em</strong> analisar a realidade, mas deturpá-la.<br />

Da mesma forma, age Dona Adriana <strong>em</strong> relação ao mari<strong>do</strong>, o Capitão Vitorino.<br />

Adriana, ao contrário <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, não vê perspectiva de futuro para sua família naquela<br />

região. Sua grande vontade é ir viver com o filho Luís, que trabalha na marinha. Como<br />

percebe que o seu mari<strong>do</strong> é, na verdade, uma criança e que, s<strong>em</strong> ela, ele não teria uma<br />

existência confortável, Adriana se sacrifica <strong>em</strong> nome da relação que t<strong>em</strong> com o mari<strong>do</strong>,<br />

aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a ideia de morar longe da Várzea.<br />

Um outro ex<strong>em</strong>plo de como o narra<strong>do</strong>r cria<strong>do</strong> por José Lins se utiliza <strong>do</strong>s<br />

pensamentos das mulheres pode ser retira<strong>do</strong> de Usina. D. Don<strong>do</strong>n, a mulher <strong>do</strong> usineiro<br />

Juca de Melo, é responsável por refletir sobre o percurso que ela e sua família faz<strong>em</strong> nos<br />

quatro anos <strong>em</strong> que o mari<strong>do</strong> constrói e perde a usina Bom Jesus. De todas as mulheres<br />

ligadas ao chefe <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong>, D. Don<strong>do</strong>n é a que mais ação desenvolve, uma vez que<br />

ela se movimenta <strong>em</strong> diferentes lugares – na usina Bom Jesus, na Paraíba (nome da capital<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, antes da Revolução de 30) e <strong>em</strong> Praia Formosa. O fato de ela também se<br />

encontrar constant<strong>em</strong>ente longe <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> lhe possibilita tomar certas decisões. É o caso,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, de ela decidir a situação das filhas. Em determina<strong>do</strong>s momentos, como no<br />

episódio <strong>em</strong> que se criam mexericos sobre as amizades das filhas com uma estrangeira, D.<br />

Don<strong>do</strong>n enfrenta o mari<strong>do</strong> para defender Clarisse e Maria Augusta. Com o declínio <strong>do</strong><br />

poder <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, graças à falência da usina e à <strong>do</strong>ença de Juca, D. Don<strong>do</strong>n ganha<br />

destaque enquanto agente de ações, pois é ela, por ex<strong>em</strong>plo, que oferece à filha mais velha<br />

uma festa de casamento digna e é ela também que tenta salvar o mari<strong>do</strong> da <strong>do</strong>ença e<br />

busca, na derrocada da usina, auxílio para a família. Usina é o primeiro romance de José<br />

Lins <strong>do</strong> Rego que dá voz aos sentimentos e às angústias de uma personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina na<br />

urdidura da trama, <strong>em</strong>bora a mulher se mantenha s<strong>em</strong> poder dentro das relações de<br />

gênero. Assim, D. Don<strong>do</strong>n t<strong>em</strong> papel relevante na trama e é ela qu<strong>em</strong> tão b<strong>em</strong> analisa as<br />

ações <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> como gerente da usina Bom Jesus.<br />

A configuração <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, com mulheres capazes de enxergar e avaliar as ações<br />

<strong>do</strong> masculino, não se constitui a norma da obra <strong>do</strong> escritor. A mulher com discernimento<br />

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