Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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O calor sensual <strong>do</strong> mar<br />
<strong>em</strong> <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong><br />
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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Na obra de José Lins <strong>do</strong> Rego, o el<strong>em</strong>ento água aparece <strong>em</strong> diferentes textos,<br />
crian<strong>do</strong> uma ligação com alguns personagens. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Menino de engenho, o rio<br />
Paraíba, que banha o engenho Santa Rosa, durante o “[...] verão ficava seco de se<br />
atravessar de pé enxuto” (REGO, 1997, p. 17), mas, <strong>em</strong> determinada cheia, vira “[...] um<br />
mar d’água roncan<strong>do</strong>” (REGO, 1997, p. 19) expulsan<strong>do</strong> muitos personagens de suas<br />
moradas. Embora traga a morte de bois, homens e plantações, as águas <strong>do</strong> rio e a das<br />
chuvas aparec<strong>em</strong> com senti<strong>do</strong> positivo, na visão <strong>do</strong> senhor de engenho, o avô de Carlos<br />
de Melo. Nas palavras de José Paulino, “Gosto mais de perder com água <strong>do</strong> que com sol”<br />
(REGO, 1997, p. 20). Em Usina, algumas questões envolven<strong>do</strong> Juca e outros usineiros<br />
ocorr<strong>em</strong> devi<strong>do</strong> à posse das águas que corr<strong>em</strong> nas terras desses senhores. Nesse romance,<br />
as águas <strong>do</strong>s rios simbolizam a fertilidade que as propriedades <strong>do</strong>s engenhos e das usinas<br />
tinham. Já <strong>em</strong> Pureza, os banhos no rio criam uma atmosfera de paraíso quan<strong>do</strong> o<br />
personag<strong>em</strong>/narra<strong>do</strong>r Lola está <strong>em</strong> companhia de sua amante Margarida:<br />
O rio descia sereno, calmo, de águas claras e puras. Mais para um canto a<br />
profundidade dava para que ficáss<strong>em</strong>os quase de cabeça coberta. Batíamos<br />
n’água como <strong>do</strong>is meninos. Dentro da mata como <strong>do</strong>is selvagens, me sentia<br />
completo, feliz, s<strong>em</strong> outra ligação com o mun<strong>do</strong>. Devia ser assim a felicidade<br />
de antes <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>.<br />
Deviam ser assim os amores <strong>do</strong>s primeiros homens, quan<strong>do</strong> a vida corria com<br />
to<strong>do</strong> o seu fogo primitivo. Deus fizera mal <strong>em</strong> interromper aquele idílio que<br />
devia ser tão eterno quanto ele (REGO, 2008a, p. 128).<br />
Em Água-mãe, as águas são representadas como aspecto privilegia<strong>do</strong> na arquitetura<br />
ficcional, uma vez que a lagoa Araruama é o ponto de encontro <strong>do</strong>s três núcleos sociais<br />
que o romance apresenta. Os <strong>do</strong>is vocábulos que compõ<strong>em</strong> o título <strong>do</strong> romance, água +<br />
mãe, mostram que o líqui<strong>do</strong> que faz o romance fluir t<strong>em</strong> características <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>.<br />
Diferent<strong>em</strong>ente <strong>do</strong>s romances anteriores, <strong>em</strong> Água-mãe o rio dá lugar ao mar, que v<strong>em</strong> se<br />
juntar às águas da lagoa Araruama: “O mar ficava além da restinga, mas a lagoa mansa<br />
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