10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

tentar determinar que espécie de mulher eu sou” 234 (CHOPIN, 1994, p. 110) –, assim<br />

como mostra que a heroína sabe que não é objeto n<strong>em</strong> propriedade de ninguém – “Já não<br />

sou propriedade <strong>do</strong> Sr. Pontellier para ser ou não descartada. Eu me entrego a qu<strong>em</strong> eu<br />

quero” 235 (CHOPIN, 1994, p. 142). Ao assumir esse discurso de “perceber sua posição no<br />

universo” 236 (CHOPIN, 1994, p. 25), Edna, portanto, d<strong>em</strong>onstra ter responsabilidade<br />

diante de suas escolhas pessoais, afastan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> que a estereotipia <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong><br />

representava naquela sociedade patriarcal. Uma vez assumida “sua posição”, ela t<strong>em</strong> que<br />

conviver com as negações que o externo lhe impõe: solidão, aban<strong>do</strong>no e um caminho,<br />

metaforiza<strong>do</strong> nas águas, que, na construção simbólica <strong>do</strong> romance, não lhe oferece<br />

solidez, mas lhe possibilita um vislumbre de nova vida. Dessa forma, o romance antecipa<br />

a autonomia f<strong>em</strong>inina tão cara aos estu<strong>do</strong>s da (pós)modernidade.<br />

Quanto à heroína de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, <strong>em</strong>bora o romance não focalize especificamente,<br />

como faz O <strong>Despertar</strong>, o desabrochar de uma mulher quanto à sua conscientização de<br />

gênero, a narrativa traz momentos <strong>em</strong> que Edna/Eduarda questiona o papel <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>.<br />

É o que ocorre quan<strong>do</strong> a protagonista identifica na figura da sua mãe um modelo <strong>do</strong><br />

<strong>f<strong>em</strong>inino</strong> que ela não quer seguir, ou quan<strong>do</strong> aponta Ester, uma mulher independente e<br />

cheia de conhecimento, como um possível modelo a ser segui<strong>do</strong> – “Teria que ser como<br />

sua mãe? [...] A mestra [Ester] não permitiria uma coisa destas” (REGO, 2003, p. 57).<br />

Quan<strong>do</strong> Edna/Eduarda, já no Brasil, se distancia da amiga e também estrangeira, Helena,<br />

para assumir um comportamento considera<strong>do</strong> inapropria<strong>do</strong> para uma mulher –<br />

interferin<strong>do</strong> no ritmo da vida de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, afeita a um espaço masculino “como se<br />

[ela] fosse hom<strong>em</strong> também” (REGO, 2003, p. 165) – Edna/Eduarda constrói para si um<br />

caminho marca<strong>do</strong> pela quebra <strong>do</strong>s padrões estabeleci<strong>do</strong>s para o seu sexo. Dessa forma,<br />

<strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> apresenta questionamentos sobre o lugar e o papel <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> e sobre os<br />

estereótipos da condição desse gênero, mas não centra sua trama na arrancada de<br />

Edna/Eduarda para assumir o lugar que a sociedade matriarcal mol<strong>do</strong>u para o masculino.<br />

O que marca a protagonista de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> é a necessidade de conquistar para si<br />

momentos que lhe ofereçam o prazer que seu interior tanto deseja. Mas, assim com Edna<br />

234 “One of these days […] I’m going to pull myself together for a while and think – try to determine what character<br />

of a woman I am” (CHOPIN, 2006, p. 966).<br />

235 “I am no longer one of Mr. Pontellier’s possessions to dispose of or not. I give myself where I choose”<br />

(CHOPIN, 2006, p. 992).<br />

236 “her position in the universe” (CHOPIN, 2006, p. 893).<br />

211

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!