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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

Inseridas <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a de organização social historicamente marca<strong>do</strong> pelo poder <strong>do</strong><br />

patriarca, as personagens de Kate Chopin d<strong>em</strong>onstram que há, neste sist<strong>em</strong>a, um<br />

aniquilamento simbólico da mulher, uma vez que o casamento era visto como a opção<br />

historicamente imposta para o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. “Confirman<strong>do</strong> o mito de que os papeis de<br />

esposa, mãe e <strong>do</strong>na de casa seja o destino das mulheres na sociedade patriarcal”<br />

(BONNICI, 2007, p. 198), a protagonista <strong>do</strong> conto “Athénaïse” afirma que se casou – e<br />

pod<strong>em</strong>os estender isso para muitas outras mulheres como ela – “porque supôs que esse<br />

era o costume para as moças, casar<strong>em</strong>-se quan<strong>do</strong> a oportunidade certa aparecia” 23<br />

(CHOPIN, 2006, p. 430).<br />

Em diferentes textos da escritora exist<strong>em</strong> considerações acerca <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

casamento, focalizan<strong>do</strong> as visões de diferentes personagens e de narra<strong>do</strong>res. No romance<br />

O <strong>Despertar</strong>, segun<strong>do</strong> a protagonista, “o casamento é um <strong>do</strong>s espetáculos mais lamentáveis<br />

da Terra” 24 (CHOPIN, 1994, p. 90). Acrescente-se a essa observação acerca <strong>do</strong><br />

matrimônio uma outra que está implícita na narrativa, quan<strong>do</strong> o narra<strong>do</strong>r afirma que a<br />

união de Edna e Léonce foi acidental: “Seu [da protagonista] casamento com Léonce<br />

Pontellier foi puramente acidental, parecen<strong>do</strong>-se muito, nesse aspecto, com muitos outros<br />

casamentos que se camuflam como decretos <strong>do</strong> Destino” 25 (CHOPIN, 1994, p. 31). A<br />

fala <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r, portanto, mostra que a maneira como ocorreu a união de Edna e Léonce<br />

pode ser análoga ao mo<strong>do</strong> como outras uniões maritais aconteceram. Outra personag<strong>em</strong><br />

de Kate Chopin, Louise Mallard, a protagonista de “The story of an hour”, afirma ser o<br />

casamento “a persistência cega com a qual homens e mulheres acreditam que eles têm o<br />

direito de impor uma vontade particular sobre o outro companheiro” 26 (CHOPIN, 2006,<br />

p. 353). Embora o pensamento da protagonista citada mostre que tanto o hom<strong>em</strong> quanto<br />

a mulher impõ<strong>em</strong> sobre o outro as suas vontades, t<strong>em</strong>os que levar <strong>em</strong> conta o fato de que<br />

este conto, assim como toda a obra de Kate Chopin, foi escrito <strong>em</strong> um momento<br />

histórico-cultural <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela ideologia <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong>, fato este que confere à mulher<br />

uma posição subalterna às vontades masculinas.<br />

23 “because she supposed it was customary for girls to marry when the right opportunity came”.<br />

24<br />

“a wedding is one of the most lamentable spectacles on earth”.<br />

25<br />

“Her marriage to Léonce Pontellier was purely an accident, in this respect res<strong>em</strong>bling many other marriages which<br />

masquerade as the decrees of Fate”.<br />

26<br />

“blind persistence with which men and women believe they have a right to impose a private will upon a fellow-<br />

creature”.<br />

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