Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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mulher foi antes; enquanto Edna/Eduarda transforma o mar <strong>em</strong> amante, recorren<strong>do</strong> a ele<br />
numa busca desesperada para encontrar o que lhe foi nega<strong>do</strong> <strong>em</strong> terra firme.<br />
A escolha da focalização narrativa de O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> d<strong>em</strong>onstra que há<br />
certa diferença entre o mo<strong>do</strong> como os <strong>do</strong>is romances representam o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Kate<br />
Chopin, ao optar pelo processo seletivo, ten<strong>do</strong> Edna Pontellier como “centro fixo”<br />
(FRIEDMAN, 2002, p. 13) de onde a voz narrativa se irradia, torna a heroína o alvo de<br />
quase toda a estória, não permitin<strong>do</strong> que outros personagens interfiram no que está sen<strong>do</strong><br />
narra<strong>do</strong>. Apenas <strong>em</strong> <strong>do</strong>is momentos, o narra<strong>do</strong>r adentra no interior de outros<br />
personagens, mas o faz rapidamente e de forma superficial, s<strong>em</strong> deixar que Edna<br />
Pontellier saia de foco. Já José Lins <strong>do</strong> Rego, ao optar pelo processo narrativo conheci<strong>do</strong><br />
como seletividade múltipla (FRIEDMAN, 2002, p. 12), fazen<strong>do</strong> uso principalmente <strong>do</strong><br />
ponto de vista da protagonista, permite que Edna/Eduarda tenha prioridade sobre o<br />
material narra<strong>do</strong>, exteriorizan<strong>do</strong> sua visão de mun<strong>do</strong>, mas não admite que o material<br />
narra<strong>do</strong> seja fruto apenas da visão da heroína, construin<strong>do</strong> a narrativa com vozes advindas<br />
de “diversos ângulos de visão” (FRIEDMAN, 2002, p. 13).<br />
Ao optar pela seletividade, fazen<strong>do</strong> da heroína o centro da narrativa, Kate Chopin<br />
dá a Edna Pontellier o <strong>em</strong>poderamento de fazer-se ouvida e de construir seu próprio<br />
discurso. Essa técnica narrativa condiz com a obra da escritora americana que, <strong>em</strong><br />
diferentes textos, procurou destacar a representação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. No caso de José Lins<br />
<strong>do</strong> Rego, a escolha pela seletividade múltipla, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> ponto de vista de<br />
Edna/Eduarda, faz de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> um texto singular no conjunto da obra <strong>do</strong> autor.<br />
Embora a heroína deste romance seja não o único ponto que chama a atenção da<br />
focalização <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r, ela constitui, inegavelmente, o centro da narrativa. Até mesmo<br />
“os diversos ângulos de visão” (FRIEDMAN, 2002, p. 13) de que se nutre o narra<strong>do</strong>r, ou<br />
seja, as vozes <strong>do</strong>s outros personagens, procuram pôr <strong>em</strong> destaque a caracterização de<br />
Edna/Eduarda como alvo de seus discursos. Diferente de outras personagens f<strong>em</strong>ininas<br />
de José Lins <strong>do</strong> Rego, a protagonista de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> fala de si e é sobre ela que reca<strong>em</strong> os<br />
olhos <strong>do</strong>s outros personagens, sejam eles homens ou mulheres, quebran<strong>do</strong> com a<br />
heg<strong>em</strong>onia da visão <strong>do</strong> masculino, que tanto marca a obra <strong>do</strong> escritor paraibano. Por essa<br />
particularidade <strong>do</strong> romance, <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> apresenta-se como o texto de José Lins que se<br />
distancia da característica mais marcante da obra <strong>do</strong> escritor: o destaque da<strong>do</strong> ao<br />
masculino, representa<strong>do</strong> pelo sist<strong>em</strong>a social <strong>do</strong>s senhores de engenho.<br />
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