Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
Edna/Eduarda vê-se frustrada e resolve devolver a Espanhola a Norma. A devolução da<br />
boneca pode ser interpretada como uma antecipação que anuncia, simbolicamente, a<br />
impossibilidade de Edna/Eduarda ter o que ama e, também, interdição da posse <strong>do</strong><br />
objeto deseja<strong>do</strong>, fato que a protagonista terá de encarar ao longo de to<strong>do</strong> o romance, uma<br />
vez que perde Ester, depois perde o paraíso que <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> representa, e depois perde<br />
o pesca<strong>do</strong>r Nô.<br />
As ligações eróticas entre Edna/Eduarda e Ester se intensificam quan<strong>do</strong> o<br />
narra<strong>do</strong>r focaliza o contato entre as duas durante as noites <strong>em</strong> que elas <strong>do</strong>rm<strong>em</strong> juntas.<br />
Estes momentos são s<strong>em</strong>pre focaliza<strong>do</strong>s pela ótica de Edna/Eduarda. Na primeira noite<br />
que <strong>do</strong>rme na casa da professora, Edna/Eduarda é invadida por uma torrente de<br />
sensações. As reticências que aparec<strong>em</strong> no trecho abaixo indicam a intensidade da<br />
sensação de prazer de Edna/Eduarda, que não consegue se expressar completamente,<br />
pois não encontra palavras para isso:<br />
Dormir, para ela, era coisa que fazia à toa. Ao la<strong>do</strong> de Ester, era mais gostoso,<br />
mais leve. Era como se estivesse acordada e sentisse as coisas <strong>do</strong> outro mun<strong>do</strong>.<br />
Debaixo <strong>do</strong>s cobertores, com um frio intenso lá fora, e Ester juntinho dela, de<br />
cabelos soltos, de cabelos negros e soltos como uma touceira de rosas<br />
cheiran<strong>do</strong>... E o corpo e a presença de Ester... Era feliz, era grande (REGO,<br />
2003, p. 68).<br />
Mas a viag<strong>em</strong> que faz com a professora até Estocolmo quebra com to<strong>do</strong> o encanto<br />
de relação amorosa que a aluna nutre pela mestra. Lá Edna/Eduarda encontra o seu único<br />
rival: Roberto, um amigo e ex-namora<strong>do</strong> de Ester. Quan<strong>do</strong> vai a um concerto na<br />
companhia de Ester e de seu amigo Roberto, Edna/Eduarda sente-se distanciada da<br />
professora. Primeiro, Roberto separa fisicamente as duas, ao sentar-se entre elas. Depois,<br />
os <strong>do</strong>is amigos são envolvi<strong>do</strong>s pela conversa de mo<strong>do</strong> a excluir Edna/Eduarda <strong>do</strong><br />
assunto; isso contribui para que a aluna sinta-se “roubada com aquela conversa” (REGO,<br />
2003, p. 76). Por fim, Roberto segura a mão de Ester durante a segunda parte <strong>do</strong><br />
concerto, provocan<strong>do</strong> <strong>em</strong> Edna/Eduarda um sentimento de ciúme: “Viu isso com o<br />
coração baten<strong>do</strong> de angústia e ficou assim uns segun<strong>do</strong>s. Ester retirou a mão, fugiu<br />
brandamente da carícia <strong>do</strong> amigo, mas a mágoa ficara <strong>em</strong> Edna. A mestra era de outro,<br />
aquele rapaz bonito era <strong>do</strong>no de sua amiga” (REGO, 2003, p. 76). A angústia de ver a<br />
90