Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
perspectiva, o mar funciona como túmulo e berço. Túmulo porque sepulta a Edna que se<br />
vê presa a todas as convenções sociais de um “mun<strong>do</strong> familiar”; mas é o berço de uma<br />
nova Edna que surge “abrin<strong>do</strong> os olhos”, para um ambiente que lhe é íntimo, mas “que<br />
jamais conhecera” 226 (CHOPIN, 1994, 150). O término <strong>em</strong> aberto da narrativa aponta<br />
para a ambiguidade presente na simbologia das águas <strong>do</strong> mar para o destino da<br />
protagonista. Helen V. Emmitt resume essa característica <strong>do</strong> romance ao afirmar que:<br />
Em O <strong>Despertar</strong>, a heroína de Kate Chopin afunda, mas um <strong>do</strong>s pontos<br />
primordiais <strong>do</strong> romance é como Edna Pontellier afunda, <strong>em</strong> triunfo ou <strong>em</strong><br />
derrota. [...] O <strong>Despertar</strong> pode ser acusa<strong>do</strong> de terminar pessimamente e de não<br />
possuir um herói, mas ele também pode ser li<strong>do</strong> como uma parábola de<br />
desenvolvimento e liberação <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s. Edna se distancia <strong>do</strong>s outros<br />
personagens <strong>do</strong> romance, presa na disparidade entre o que a sociedade exige e o<br />
que ela [Edna] quer. [...] Digo que Edna foge da solidão de ‘uma mulher régia,<br />
aquela que governa, que avalia, que não t<strong>em</strong> par’, para o abraço solitário que lhe<br />
dá satisfação, o <strong>do</strong> mar, um abraço que apenas incidentalmente resulta <strong>em</strong><br />
morte” 227 (EMMITT, 1993, p. 320).<br />
Em seu mergulho final, quan<strong>do</strong> Edna atinge uma distância mar à dentro, distância<br />
b<strong>em</strong> maior <strong>do</strong> que aquela que ela atingiu na primeira experiência ao nadar, a protagonista<br />
já não sente a mesma sensação de terror toman<strong>do</strong> conta dela, como ocorreu na noite de<br />
28 de agosto: “Olhou ao longe e o velho terror se acendeu por um instante, para logo<br />
depois se extinguir” (CHOPIN, 1994, p. 151). Ela reconhece que atingiu um ponto <strong>em</strong><br />
sua vida <strong>do</strong> qual não podia mais fugir. Desperta para esta realidade, Edna Pontellier<br />
recusa ser o que to<strong>do</strong>s exig<strong>em</strong> dela. A cena final aproxima-se da inicial. Isto é, no começo<br />
<strong>do</strong> romance v<strong>em</strong>os <strong>do</strong>is pássaros, um papagaio e um tor<strong>do</strong>. Enquanto um repete – o<br />
papagaio –, o outro é capaz de compreender até a língua incompreensível – o tor<strong>do</strong>. Edna<br />
deixa de ser o papagaio, para ser o tor<strong>do</strong>. Se antes ela repetia papéis, agora ela segue um<br />
caminho que, no contexto <strong>em</strong> que a trama se desenvolve, é incompreensível.<br />
O mergulho final de Edna Pontellier no Golfo <strong>do</strong> México simboliza o processo de<br />
suas ações durante a narrativa: ela agiu de maneira segura, s<strong>em</strong> olhar para trás e s<strong>em</strong><br />
226 “familiar world”, “opening its eyes”, “that it had never known” (CHOPIN, 2006, p. 1000).<br />
227 “In The awakening, Kate Chopin’s heroine <strong>do</strong>es sink, but one of the cruxes of the novel is how Edna Pontellier<br />
sinks, in triumph or in defeat. […] The awakening may be accused of ending badly and lacking a hero, but it may also<br />
be read as a parable of f<strong>em</strong>ale development and liberation. Edna stands apart from the novel's other characters,<br />
trapped in the disparity between what society d<strong>em</strong>ands and what she wants. […] I argue that Edna runs from the<br />
solitude of “the regal woman, the one who rules, who looks on, who stands alone”, into the sole <strong>em</strong>brace that gives<br />
her satisfaction, that of the sea, an <strong>em</strong>brace that only incidentally results in death”.<br />
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