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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

carrega: “Tinha deixa<strong>do</strong> o roupão; o maiô exibia-lhe o corpo quase nu. Qu<strong>em</strong> a visse<br />

assim, diria que havia fugi<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar uma sereia, desencantada na praia” (REGO, 2003, p.<br />

231); “D<strong>em</strong>orou assim mais de uma hora, estendida, nua, como uma sereia que houvesse<br />

da<strong>do</strong> na praia. Depois caiu outra vez na água” (REGO, 2003, p. 272).<br />

Mas o senti<strong>do</strong> negativo da comparação aparecerá novamente quan<strong>do</strong> é Nô qu<strong>em</strong> a<br />

utiliza, no momento <strong>em</strong> que ele deseja ficar sozinho com Edna/Eduarda <strong>em</strong> alto mar,<br />

longe de to<strong>do</strong>s os outros mora<strong>do</strong>res:<br />

Queria ficar com a galega no mar alto, distante da terra, na solidão, no esquisito<br />

<strong>do</strong> mar. Sonhara com ela sain<strong>do</strong> de dentro d’água como aquela mulher [a sereia]<br />

que botara a perder o pobre <strong>do</strong> Neco de Lourenço – uma mulher que<br />

enchia o mar com a beleza <strong>do</strong> corpo, com os cabelos à flor d’água e a boca<br />

pedin<strong>do</strong> beijo (REGO, 2003, p. 239) (Grifos nossos).<br />

Nô ainda aproxima, com a mesma carga de negatividade e destruição, a galega<br />

sueca à imag<strong>em</strong> das sereias, quan<strong>do</strong> ele identifica na relação dele com Edna/Eduarda as<br />

histórias contadas sobre o poder de encantamento das sereias que tentam os homens <strong>em</strong><br />

alto mar:<br />

O mar manso, s<strong>em</strong> ondas, verde como folha de mato. [Nô] fundeara a jangada<br />

para soltar as linhas e ela [Edna] queria ajudar. Sentaram-se os <strong>do</strong>is de um la<strong>do</strong><br />

só, a moça pertinho dele. Sentiu até no frio da água o bafo <strong>do</strong> corpo dela. Quis<br />

fugir daquilo, mas não teve corag<strong>em</strong> [...] Soltaram a linha outra vez. E a moça<br />

mais perto dele. Como numa história de sereia, ele sentiu as mãos dela no seu<br />

corpo (REGO, 2003, p. 254).<br />

Quanto à identificação da protagonista da narrativa com os peixes <strong>do</strong> mar, ela é<br />

criada pelos <strong>do</strong>is mora<strong>do</strong>res mais velhos de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, Aninha e José Divina.<br />

Representantes mais arraiga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a sociocultural solidifica<strong>do</strong> naquele espaço<br />

patriarcal, os <strong>do</strong>is mora<strong>do</strong>res buscam nessa comparação uma forma de questionar o<br />

comportamento da estrangeira, numa atitude de reprovação. As palavras de José Divina,<br />

que aparec<strong>em</strong> sob a voz <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r <strong>em</strong> discurso indireto-livre, <strong>em</strong>bora pretendam não<br />

repassar um julgamento de valor sobre Edna/Eduarda, mostram o poder de Aninha<br />

diante <strong>do</strong>s que vêm de fora rebaixan<strong>do</strong>, dessa forma, o papel da sueca dentro daquele<br />

contexto:<br />

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