Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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De forma s<strong>em</strong>elhante, Wilson de A. Lousada mostra que Edna/Eduarda, ao<br />
chegar ao litoral <strong>do</strong> Brasil, sofre uma mudança de personalidade e t<strong>em</strong> essa mudança<br />
provocada pela força da ambientação da narrativa:<br />
Agora a ‘gringa’ é apenas uma mulher, fêmea livre que encontrou o seu<br />
caminho e despiu-se de to<strong>do</strong>s os complexos acumula<strong>do</strong>s na a<strong>do</strong>lescente. No<br />
entanto, o amor de Edna por Nô, amor feito de puro sensualismo mas de uma<br />
grande poesia humana, esconde também <strong>em</strong> suas fontes secretas uma grande<br />
força inconsciente e ignorada – a força da terra (LOUSADA, 1991, p. 363).<br />
Exploran<strong>do</strong> a mesma relação entre protagonista e ambientação <strong>do</strong> litoral brasileiro,<br />
José Aderal<strong>do</strong> Castello, ao abordar a fuga <strong>em</strong>preendida pela protagonista de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>,<br />
destaca o fato de que é nas praias <strong>do</strong> Brasil que Edna/Eduarda t<strong>em</strong> a chance de<br />
encontrar-se consigo mesma, fugin<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> o que a paisag<strong>em</strong> fria e cinza de seu lugar<br />
de orig<strong>em</strong> representa, ao afirmar que “[...] o reencontro de Edna consigo mesma dar-se-ia<br />
somente <strong>em</strong> terras brasileiras, no litoral de Alagoas, na paisag<strong>em</strong> de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> de muita<br />
luz e colori<strong>do</strong>, <strong>em</strong> contraste com a paisag<strong>em</strong> cinzenta e fria das origens” (CASTELLO,<br />
2001, p. 153).<br />
Embora não desenvolvam, como o faz<strong>em</strong> Sandra Gilbert, Elaine Showalter e<br />
Apareci<strong>do</strong> Donizete Rossi com o romance O <strong>Despertar</strong>, uma relação mais direta entre a<br />
protagonista de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> e as águas, enfocan<strong>do</strong> uma leitura que, pelo menos, se<br />
aproxime <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s f<strong>em</strong>inistas, uma vez que tais críticos da obra de José Lins não estão<br />
preocupa<strong>do</strong>s com este tipo de abordag<strong>em</strong> interpretativa, as falas de Wilson de A.<br />
Lousada, Aurélio Buarque de Holanda e José Aderal<strong>do</strong> Castello nos permit<strong>em</strong> entender o<br />
“reencontro de Edna consigo mesma”, a “fusão <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com o meio” e com “a força<br />
da terra”, como a fusão entre Edna/Eduarda – o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> – e as águas que cercam a<br />
personag<strong>em</strong> naquela parte específica <strong>do</strong> litoral brasileiro. A força exercida pelo el<strong>em</strong>ento<br />
água no romance de José Lins <strong>do</strong> Rego é tão inquestionável que, dentre as três partes que<br />
compõ<strong>em</strong> o romance – “Ester”, “<strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>” e “Nô” – é a segunda parte, referente a<br />
este líqui<strong>do</strong>, que nomeia o romance. Das três grandes paixões da “galega” sueca, como foi<br />
explora<strong>do</strong> no capítulo anterior, sobressai a que alude às águas, uma vez que para nomear a<br />
totalidade da narrativa é escolhida a imag<strong>em</strong> das águas <strong>do</strong> lugar aonde Edna/Eduarda<br />
veio morar no Brasil, <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>.<br />
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