Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
– Ela não é uma de nós; não é como nós. Ela pode cometer a infeliz asneira de<br />
levá-lo a sério 110 (CHOPIN, 1994, p. 33).<br />
Dessas duas situações, perceb<strong>em</strong>os que o fato de Edna ser de outro grupo étnico e<br />
cultural a torna especial diante <strong>do</strong>s Creoles. Lauretis chama atenção para o fato de haver:<br />
um <strong>sujeito</strong> constituí<strong>do</strong> no gênero, s<strong>em</strong> dúvida, mas não apenas pela diferença<br />
sexual, e sim por meio de códigos linguísticos e representações culturais; um<br />
<strong>sujeito</strong> ‘engendra<strong>do</strong>’ não só na experiência de relações de sexo, mas também<br />
nas de raça e classe: um <strong>sujeito</strong>, portanto, múltiplo <strong>em</strong> vez de único, e<br />
contraditório <strong>em</strong> vez de simplesmente dividi<strong>do</strong>” (p. 208).<br />
Ao destacar que um <strong>sujeito</strong> está construí<strong>do</strong> levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta não apenas a<br />
diferença entres os sexos, mas os aspectos sociais e culturais, Lauretis reforça a ideia de<br />
que a experiência de vida t<strong>em</strong> peso na diferenciação <strong>do</strong>s <strong>sujeito</strong>s. Assim sen<strong>do</strong>, o texto de<br />
Chopin apresenta uma questão de gênero que se constrói com base <strong>em</strong> outras situações<br />
que não a da diferença sexual. Edna é uma mulher que se diferencia das outras a sua volta<br />
por uma questão étnica e cultural, assim como por uma questão de quebra <strong>do</strong>s padrões<br />
estabeleci<strong>do</strong>s pelo grupo maior <strong>em</strong> que ela se encontra – a sociedade americana <strong>do</strong> século<br />
XIX.<br />
Ainda como contraste entre Adèle e Edna, a protagonista de O <strong>Despertar</strong> é<br />
identificada, logo nos primeiros capítulos da obra, como uma mulher que se diferencia da<br />
figura de “Anjo <strong>do</strong> lar”: “Em resumo, a Sra. Pontellier não era <strong>do</strong> tipo maternal” 111<br />
(CHOPIN, 1994, p. 19). Não é só o narra<strong>do</strong>r que a reconhece como tal, mas a própria<br />
personag<strong>em</strong> não se vê como uma mulher ligada primordialmente às funções <strong>do</strong>mésticas.<br />
O seu mari<strong>do</strong> também não reconhece na mulher n<strong>em</strong> o tipo da <strong>do</strong>na de casa n<strong>em</strong> o de<br />
esposa. O romance traça, na verdade, os despertares de Edna na direção de fugir <strong>do</strong> que o<br />
seu lar lhe reserva.<br />
Em primeiro lugar, Edna Pontellier se contrapõe aos atributos apresenta<strong>do</strong>s por<br />
sua amiga Adèle. De início, elas já se diferenciam quanto ao fator físico. Como<br />
110 “I only ask for one; let Mrs. Pontellier alone.”<br />
“Tiens!” he exclaimed, with a sudden, boyish laugh. “Voila que Madame Ratignolle est jalouse!”<br />
“Nonsense! I’m in earnest; I mean what I say. Let Mrs. Pontellier alone.”<br />
“Why?” he asked; himself growing serious at his companion’s solicitation.<br />
“She is not one of us; she is not like us. She might make the unfortunate blunder of taking you seriously” (CHOPIN,<br />
2006, p. 900).<br />
111 “In short, Mrs. Pontellier was not a mother-woman’ (CHOPIN, 2006, p. 888).<br />
122