Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
<strong>em</strong> delicada brancura, ou a criada que recolhe seu vaso quebra<strong>do</strong>. Ela nunca faz<br />
conexões entre sua posição e as das outras 142 (1993, p. 184).<br />
Há ainda a figura de Aline Lebrun. A mãe de Robert e Victor, assim como Reisz e<br />
Edna, destoa <strong>do</strong> tipo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> passivo; mas, como ocorre com as duas grandes figuras<br />
que são antípodas da protagonista, Aline não constitui um modelo que possa servir de<br />
espelho para Edna. Viúva, Aline Lebrun gerencia seus negócios e, <strong>em</strong>bora fale <strong>do</strong> esposo,<br />
não há d<strong>em</strong>onstrações de que ela sinta saudades dele, com exceção <strong>do</strong> momento <strong>em</strong> que<br />
t<strong>em</strong> que tomar conta <strong>do</strong>s filhos. Na verdade, ela já t<strong>em</strong> outro pretendente, Montel, mas<br />
parece não querer casar porque se encontra <strong>em</strong> uma situação de conforto. Ela também é<br />
dada a ler uma literatura que possui personagens imersas <strong>em</strong> degradação – o livro de<br />
Goncourt (Edmund). Seu filho Victor agrava ainda mais a situação de boa esposa de<br />
Aline: o rapaz t<strong>em</strong> 19 anos, mas o mari<strong>do</strong> de Aline parece que morreu há vinte anos. E<br />
desde a morte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> que Montel a corteja. Cabe ao leitor a seguinte pergunta: seria<br />
Victor filho de uma relação fora <strong>do</strong> casamento? A forma como a mãe o trata d<strong>em</strong>onstra,<br />
segun<strong>do</strong> Reisz, que ela a<strong>do</strong>ra mais o jov<strong>em</strong> que seu irmão Robert. Além <strong>do</strong> mais, os <strong>do</strong>is<br />
rapazes são totalmente diferentes. Na forma como Reisz e Aline se mostram mulheres<br />
independentes, cria-se uma aproximação entre as duas. Mas Aline torna-se mais aceitável<br />
no contexto patriarcal porque ela casou, tornou-se mãe, enviuvou e her<strong>do</strong>u bens que lhe<br />
permit<strong>em</strong> manter-se com seu trabalho. Ela completou o que aquela sociedade espera de<br />
uma mulher. Ela, ainda, encontra-se restrita ao ambiente familiar e possui o status de<br />
beleza da mulher creole.<br />
Edna possui <strong>em</strong> Adéle e Reisz os possíveis marcos de referência para seu sexo.<br />
Como não quer o que nenhuma das duas representa e como não acha espaço dentro da<br />
sociedade <strong>em</strong> que vive para se <strong>em</strong>ancipar, a protagonista acaba crian<strong>do</strong> para si uma<br />
alternativa que parece ser a que melhor lhe possibilitaria um preenchimento de suas<br />
expectativas como indivíduo de vontade: um mergulho nas águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México.<br />
Desta falta de modelo a seguir e da total inaptidão da personag<strong>em</strong> para adaptar-se ao que<br />
lhe é ofereci<strong>do</strong> constitui-se a característica d<strong>em</strong>oníaca lukacsiana de Edna Pontellier.<br />
142 “The other side of Edna’s terror of solitude, however, is the bondage of class as well as gender that keeps her in a<br />
prison of self. She goes blank too whenever she might be expected to notice the <strong>do</strong>uble standard of ladylike privilege<br />
and oppression of women in southern society. Floating along in her ‘mazes of inward cont<strong>em</strong>plation’, Edna barely<br />
notices the silent quadroon nurse who takes care of her children, the little black girl who works the treadles of<br />
Madame Lebrun’s sewing machine, the laundress who keeps her in frilly white, or the maid who picks up her broken<br />
glass. She never makes connections between her lot and theirs”.<br />
135