Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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Na constituição <strong>do</strong> livro, a personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina, Eurídice, assume o papel de<br />
responsável pela narrativa tomar forma, uma vez que é ela, ou melhor, o seu assassinato e<br />
o consequente arruinamento da vida de Julinho, que motiva a narrativa feita pelo<br />
personag<strong>em</strong>-narra<strong>do</strong>r.<br />
Mas a narrativa de José Lins <strong>do</strong> Rego que t<strong>em</strong>, realmente, como protagonista uma<br />
mulher é <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>. O romance, de 1939, como ocorre com outras obras <strong>do</strong> escritor,<br />
está dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> partes: “Ester”, “<strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>” e “Nô”. Esta obra t<strong>em</strong> como foco<br />
principal a personag<strong>em</strong> Edna, ou Eduarda, uma sueca que v<strong>em</strong> com o mari<strong>do</strong> tentar uma<br />
nova vida no Brasil. A primeira parte <strong>do</strong> livro, considerada pela crítica como a menos<br />
elaborada de to<strong>do</strong> o romance (cf. LOUSADA, 1991), focaliza a infância, a a<strong>do</strong>lescência e<br />
o início <strong>do</strong> casamento de Edna/Eduarda na Suécia. Aqui é explorada, principalmente, a<br />
relação de transferência que a protagonista sofre por sua professora Ester. Esta parte <strong>do</strong><br />
livro serve para “fixar a sua heroína no meio que lhe era habitual, seus conflitos de alma e<br />
corpo, seus desejos comprimi<strong>do</strong>s pelo ambiente hostil” (LOUSADA, 1991, p. 362). Nas<br />
outras duas partes, vamos encontrar a “galega” – como era chamada pelos pesca<strong>do</strong>res –<br />
envolta na paisag<strong>em</strong> nordestina, desfrutan<strong>do</strong> <strong>do</strong> sol e <strong>do</strong> mar que banham a pequena vila<br />
de pesca<strong>do</strong>res de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, situada no esta<strong>do</strong> de Alagoas. Neste pequeno lugar, a<br />
personag<strong>em</strong> acaba se descobrin<strong>do</strong> como mulher e se entrega a uma paixão por um<br />
mestiço local, Nô. Para ficar com o seu amor e para continuar sentin<strong>do</strong> o que nunca<br />
experimentara antes – “A vida de Edna começou a ser outra. S<strong>em</strong> saber explicar direito,<br />
havia uma coisa dentro dela, uma espécie de preocupação constante, um desejo oculto<br />
que a <strong>do</strong>minava” (REGO, 2003, p. 218) –, Edna/Eduarda esquece sua situação de mulher<br />
casada, sua raça e classe social, e se entrega aos braços de Nô. Nessa entrega, ela acaba<br />
lançan<strong>do</strong>-se, depois de ser rejeitada pelo mestiço e perceber que arruinara a vida <strong>do</strong><br />
mari<strong>do</strong>, ao mar que tantas vezes serviu de refúgio amoroso para os <strong>do</strong>is.<br />
Diante <strong>do</strong> breve esboço que fiz<strong>em</strong>os sobre a representação da mulher na obra <strong>do</strong><br />
escritor paraibano, perceb<strong>em</strong>os que as personagens f<strong>em</strong>ininas não constitu<strong>em</strong>, com<br />
exceção de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, protagonistas exclusivas das narrativas. Há casos, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
<strong>em</strong> que, devi<strong>do</strong> ao grande número de núcleos de personagens, as mulheres têm destaque<br />
tão importantes quanto os homens, como ocorre no romance Água-mãe. Mas, no geral,<br />
elas ainda são periféricas, no que concerne ao <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> espaço e também da voz que<br />
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