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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

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ser fatal à força cria<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> escritor” (SOBREIRA, 1977, p. 131). A mesma ideia é<br />

reforçada por Edilberto Coutinho, ao se referir a um desses romances <strong>em</strong> especial. O<br />

estudioso mostra que a crítica a ele cont<strong>em</strong>porânea vê que a obra Eurídice nada mais é <strong>do</strong><br />

que uma falha no projeto maior <strong>do</strong> escritor: “[...] o livro, romance de pretensões<br />

analíticas, foi aponta<strong>do</strong> pela crítica mais responsável como um deslize, no senti<strong>do</strong> de ser<br />

obra completamente desligada <strong>do</strong> verdadeiro mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> autor” (COUTINHO, 1980, p.<br />

23). Concordamos com a afirmação de que certos textos de José Lins fog<strong>em</strong> da<br />

ambientação <strong>do</strong> espaço <strong>do</strong>s engenhos, mas dizer que essa fuga é uma falha artística <strong>do</strong><br />

escritor é uma declaração apressada, pois, independente de onde são ambienta<strong>do</strong>s os<br />

romances, há <strong>em</strong> cada um deles a força artística que confere grandiosidade a todas as<br />

criações de José Lins <strong>do</strong> Rego. É o que pretend<strong>em</strong>os mostrar com o estu<strong>do</strong> analítico que<br />

desenvolv<strong>em</strong>os aqui.<br />

Essa diferença entre os tipos de romances <strong>do</strong> escritor parece ter negligencia<strong>do</strong> o<br />

estu<strong>do</strong> das obras inseridas nessa nomenclatura de “independentes”. Até a palavra usada<br />

para qualificar as obras <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, Água-Mãe e Eurídice d<strong>em</strong>onstra uma carga de<br />

inferioridade entre estes textos e aqueles, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>do</strong> Ciclo da cana-de-açúcar. Como<br />

não segu<strong>em</strong> o padrão destes, por isso independentes, aqueles romances não trariam o<br />

mesmo poder artístico <strong>do</strong>s primeiros, acreditavam alguns críticos. Essa desqualificação<br />

criada pela crítica faz com que os três romances – <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, Água-Mãe e Eurídice –<br />

possuam poucos estu<strong>do</strong>s na acad<strong>em</strong>ia.<br />

Para aqueles leitores que se debruçaram sobre a obra completa de José Lins <strong>do</strong><br />

Rego, fica fácil identificar a recorrência de determina<strong>do</strong>s personagens <strong>em</strong> diferentes textos<br />

<strong>do</strong> autor. Por ex<strong>em</strong>plo: Carlos de Melo e o coronel José Paulino se faz<strong>em</strong> presentes <strong>em</strong><br />

mais de cinco romances, seja como personagens que se materializam na narrativa ou<br />

como alusão. Mas o fato mais intrigante dessa atividade de (re)criar os próprios<br />

personagens ocorre com as criações que têm papel secundário nas tramas. Esses<br />

personagens apresentam pequenas alterações <strong>em</strong> diferentes narrativas, seja uma mudança<br />

de nome, de lugar onde mora ou de parentesco. É o caso, por ex<strong>em</strong>plo, da personag<strong>em</strong><br />

Dona Olívia, referida <strong>em</strong> <strong>do</strong>is romances – Menino de engenho e Fogo morto. Em Menino de<br />

engenho, esta personag<strong>em</strong> aparece como irmã louca de Lula, mari<strong>do</strong> de Amélia: “Corriam<br />

histórias da casa de seu Lula [...] via-se pela faxina de sua horta uma sua irmã maluca, d.<br />

Olívia, andan<strong>do</strong> de um la<strong>do</strong> para o outro, falan<strong>do</strong> só” (REGO, 1997, p. 53). Já <strong>em</strong> Fogo<br />

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