Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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as obras literárias canônicas [representaram] a mulher a partir de repetições de<br />
estereótipos culturais, como, por ex<strong>em</strong>plo, o da mulher sedutora, perigosa e<br />
imoral, o da mulher como megera, o da mulher indefesa e incapaz e, entre<br />
outros, o da mulher como anjo capaz de se sacrificar pelos que a cercam. Sen<strong>do</strong><br />
que à representação da mulher como incapaz e impotente subjaz uma<br />
conotação positiva; a independência f<strong>em</strong>inina vislumbrada na megera e na<br />
adúltera r<strong>em</strong>ete à rejeição e à antipatia (ZOLIN, 2009, p. 226).<br />
Mas, como se t<strong>em</strong> constata<strong>do</strong>, a representação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> na literatura v<strong>em</strong><br />
sofren<strong>do</strong> mudanças expressivas, se considerarmos as diferentes produções artísticas ao<br />
longo da História da Literatura <strong>do</strong> Ocidente. O que se percebe é uma tentativa da<br />
literatura de se afastar da representação da mulher como inferior, para mostrar o<br />
surgimento de novas visões sobre o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Isso fica mais visível quan<strong>do</strong> nos<br />
debruçamos sobre os textos de autoria f<strong>em</strong>inina. Nesta outra concepção da mulher, que<br />
se afasta consideravelmente da que nos é oferecida pelo patriarca<strong>do</strong>,<br />
a mulher é representada com outros interesses, diferentes daqueles por tanto<br />
t<strong>em</strong>po enfoca<strong>do</strong>s, referentes ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico e às relações amorosas; não<br />
é, sobretu<strong>do</strong>, representada a partir <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> outro sexo e <strong>em</strong> relação ao<br />
outro sexo, como tradicionalmente acontece na ficção (ZOLIN, 2009, p. 223).<br />
Este modelo ficcional <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> que foge ao padrão <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong> é<br />
comumente encontra<strong>do</strong> nas produções literárias escritas por mulheres. Como muito da<br />
produção de autoria f<strong>em</strong>inina não está inseri<strong>do</strong> no cânone literário, a representação de<br />
personagens mulheres que, no processo de “engendramento”, são capazes de<br />
“<strong>em</strong>preender mudanças <strong>em</strong> relação [ao seu] esta<strong>do</strong> de objetificação” (ZOLIN, 2009, p.<br />
222) ainda t<strong>em</strong> um lugar inferior nas produções literárias ao longo da História. O que<br />
pre<strong>do</strong>mina na representação literária sobre a mulher são as “personagens f<strong>em</strong>ininas<br />
tradicionalmente construídas como submissas, dependentes, econômica e<br />
psicologicamente <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> reduplican<strong>do</strong> o estereótipo patriarcal” (ZOLIN, 2009, p.<br />
222).<br />
Ao analisar o papel da mulher nas letras, Virginia Woolf, <strong>em</strong> Um teto to<strong>do</strong> seu, faz as<br />
seguintes perguntas para a audiência a que se dirige o texto: “Têm vocês alguma noção de<br />
quantos livros são escritos sobre mulheres <strong>em</strong> um ano? Têm alguma noção de quantos<br />
são escritos por homens? Estão cientes de ser<strong>em</strong>, talvez, o animal mais discuti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
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