Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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Pontellier, a Edna criada por José Lins <strong>do</strong> Rego, mesmo que de forma menos engajada<br />
com o papel <strong>do</strong>s sexos, pode ser caracterizada como uma mulher que busca “sua posição<br />
no universo como ser humano” 237 (CHOPIN, 1994, p. 25). As ações que ela <strong>em</strong>preende,<br />
como a escolha <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, a vinda para o Brasil e a entrega a Nô, são evidências<br />
incontestes de que ela tenta fugir <strong>do</strong> que está reserva<strong>do</strong> para uma mulher de sua condição.<br />
Ao construír<strong>em</strong> um mo<strong>do</strong> ímpar de vida para si, as protagonistas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
romances encontram-se diante de um mun<strong>do</strong> que as distancia <strong>do</strong>s outros personagens,<br />
principalmente das outras mulheres presentes no texto ficcional. E, por ser<strong>em</strong> únicas, elas<br />
têm que enfrentar um novo mo<strong>do</strong> de drama interior, pois o mun<strong>do</strong> exterior vai se chocar<br />
com o interior de ambas, crian<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> de fracasso para o desfecho da história<br />
dessas mulheres. Mas, na verdade, O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> apresentam um desfecho<br />
narrativo que mostra o momento final das duas heroínas como mais uma tomada de<br />
consciência, crian<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> simbólico que nos permite entender este fechamento das<br />
respectivas tramas como o momento de transcendência dessas personagens, deixan<strong>do</strong><br />
claro que, da mesma forma como elas tiveram um estágio de nascimento, agora elas estão<br />
prontas para abraçar as consequências de suas escolhas, cada uma a seu mo<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> que<br />
isso signifique a derrocada de suas ações.<br />
Na configuração da narrativa, o mar é o responsável por criar a poliss<strong>em</strong>ia de<br />
senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s romances, pois este aponta tanto para o nascimento como para a<br />
morte, uma vez que, <strong>em</strong> sua essência, as águas carregam, segun<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
símbolos, os senti<strong>do</strong>s de vida e de morte. No espaço líqui<strong>do</strong>, as duas protagonistas<br />
consegu<strong>em</strong> desfrutar de momentos prazerosos, carrega<strong>do</strong>s de erotismo. Da<strong>do</strong> ao papel<br />
preponderante da água, o mar ganha uma caracterização revestida de ações humanas, uma<br />
vez que ele é comumente descrito com aspectos próprios aos seres humanos. A narrativa<br />
de Kate Chopin e a de José Lins <strong>do</strong> Rego mostram um mar capaz de seduzir, de falar, de<br />
abraçar, de acariciar, de excitar, de provocar, de acalmar, de aquecer, entre outros<br />
atributos. É nele que as duas protagonistas encontram escapatória para as negações<br />
impostas pelo patriarca<strong>do</strong>, transforman<strong>do</strong> este espaço líqui<strong>do</strong> <strong>em</strong> um ambiente propício<br />
para o extravasamento <strong>do</strong>s anseios <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s. Como apontamos, Edna Pontellier<br />
mergulha nas águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México buscan<strong>do</strong> atingir um ponto onde nenhuma<br />
237 “her position in the universe as a human being” (CHOPIN, 2006, p. 893).<br />
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