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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

robusta, o pé-de-boi da família, coração vazio de tu<strong>do</strong>, ansian<strong>do</strong> por uma ocasião pra<br />

fugir <strong>do</strong>s seus, procurar terras estranhas, onde pudesse nascer outra vez” (REGO,<br />

2003, p. 40) (grifos nossos). O desejo de renascer <strong>em</strong> outro lugar é explora<strong>do</strong> na narrativa<br />

através da funcionalidade <strong>do</strong> mar e <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a ele, mostran<strong>do</strong> que o<br />

na<strong>do</strong> que Edna/Eduard <strong>em</strong>preende, no final da narrativa, constitui-se uma forma de<br />

regeneração da heroína.<br />

No final <strong>do</strong> capítulo I, da segunda parte <strong>do</strong> romance, quan<strong>do</strong> o navio que<br />

transportava Edna/Eduarda vinha se aproximan<strong>do</strong> da costa brasileira, o narra<strong>do</strong>r aponta<br />

para mudanças na paisag<strong>em</strong> para mostrar que a heroína deixava a sua antiga vida, para<br />

adentrar <strong>em</strong> uma nova existência: “E foram chegan<strong>do</strong>. As terras misteriosas se<br />

aproximavam. O mar era outro. Os ventos que sopravam eram diferentes” (REGO, 2003,<br />

p. 123). O surgimento dessa nova vida é anuncia<strong>do</strong> pelo mar e pelo que está <strong>em</strong> volta<br />

dele, ou seja, pelos outros el<strong>em</strong>entos da natureza tropical que contrastam com tu<strong>do</strong> o que<br />

a Suécia representava para a protagonista:<br />

Na primeira noite que Edna sentiu não ser mais uma noite como as outras,<br />

quase que não <strong>do</strong>rmiu. Ficou no tombadilho. O mar g<strong>em</strong>ia. E o céu, claro,<br />

estrela<strong>do</strong>. Esteve assim horas a horas [...] e uma brisa passava pelos seus<br />

cabelos, pelo seu colo nu, pelas suas pernas s<strong>em</strong> meia, com uma ternura de<br />

amante. Era a noite tropical de que tanto ouvira falar nos po<strong>em</strong>as, a noite cheia<br />

<strong>do</strong>s encantos para o amor.<br />

Ficou ali, deixan<strong>do</strong>-se possuir pelo vento que vinha cheiran<strong>do</strong> a mar. Que ele<br />

entrasse pelo seu corpo, lambesse as suas carnes, <strong>do</strong>rmisse com ela (REGO,<br />

2003, p. 123).<br />

No capítulo anterior, já analisamos como a protagonista de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> surge <strong>do</strong><br />

mar, aproximan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> episódio <strong>do</strong> nascimento da deusa Afrodite. Tal como a deusa<br />

grega, Edna/Eduarda, que “[v]iera nas costas <strong>do</strong> vento atravessan<strong>do</strong> mares e mares, e<br />

caíra no paraíso” (REGO, 2003, p. 320), usa as águas <strong>do</strong> mar como itinerário: “olhou para<br />

o outro la<strong>do</strong>, e era o mar, a grande estrada por onde vieram” (REGO, 2003, p. 131).<br />

Nesta parte de nossa análise, vamos destacar o mo<strong>do</strong> como Edna/Eduarda encontra no<br />

mar o ambiente propício para a descoberta da felicidade, da sexualidade e <strong>do</strong> amor,<br />

sentimentos caros a esta personag<strong>em</strong>. Em seu contato com as águas salgadas, a heroína<br />

identifica o mar como o seu espaço mais prazeroso e se torna, <strong>em</strong> contrapartida, um ser<br />

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