Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
Com relação à obra de Kate Chopin, a estudiosa americana Elaine Showalter, ao<br />
analisar O <strong>Despertar</strong>, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta o mergulho de Edna Pontellier nas águas <strong>do</strong> Golfo<br />
<strong>do</strong> México, no artigo intitula<strong>do</strong> “Tradition and the literary talent: The awakening as a<br />
solitary book”, mostra que há uma identificação entre o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> e as águas, uma vez que<br />
o corpo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> possui muito líqui<strong>do</strong> <strong>em</strong> si. Nas palavras de Elaine Showalter:<br />
Afogamento, por si só, traz à mente analogias metafóricas entre f<strong>em</strong>inilidade e<br />
líqui<strong>do</strong>. Como o corpo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> é predisposto ao molha<strong>do</strong>, ao sangue, ao leite,<br />
às lágrimas, e ao líqui<strong>do</strong> amniótico, dessa forma, no afogamento a mulher está<br />
imersa no el<strong>em</strong>ento orgânico <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. O afogamento, portanto, se torna a<br />
morte literária tradicionalmente f<strong>em</strong>inina 151 (SHOWALTER, 1993, p. 186).<br />
Mas não foi Showalter qu<strong>em</strong> primeiro relacionou o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> às águas, ao abordar,<br />
especificamente, o romance de Kate Chopin. Sandra Gilbert, no artigo “The second<br />
coming of Aphrodite: Kate Chopin’s fantasy of desire”, de maneira indireta, aproxima o<br />
el<strong>em</strong>ento água à personag<strong>em</strong> principal, ao enfocar Edna Pontellier como uma<br />
representação da deusa grega Afrodite, que nasceu nas espumas <strong>do</strong> mar. Segun<strong>do</strong> Sandra<br />
Gilbert,<br />
Edna Pontellier definitivamente (mesmo que por um momento) ‘torna-se’ a<br />
poderosa deusa <strong>do</strong> amor e das artes <strong>em</strong> cuja forma ela primeiramente ‘nasceu’<br />
no Golfo próximo a Grand Isle e <strong>em</strong> cuja imag<strong>em</strong> ela será suicidamente<br />
renascida no mar no final <strong>do</strong> romance 152 (GILBERT, 1983, p. 44).<br />
Enfocan<strong>do</strong> o romance de Kate Chopin, destacan<strong>do</strong> a presença das águas na<br />
narrativa, Apareci<strong>do</strong> Donizete Rossi mostra que “[o] mar e sua essência, a água, são o<br />
verdadeiro espaço de O despertar, um espaço cíclico e líqui<strong>do</strong>, um espaço <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>” (2010, p. 204)<br />
(grifos <strong>do</strong> autor). Expandin<strong>do</strong> as ideias presentes no texto de Sandra Gilbert, Rossi<br />
desenvolve uma leitura <strong>do</strong> romance de Kate Chopin a partir da relação entre os três<br />
tópicos destaca<strong>do</strong>s por ele: cíclico, líqui<strong>do</strong> e <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Segun<strong>do</strong> o estudioso, “[h]á uma<br />
identificação simbólica entre a água, o círculo e o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> que se reproduz <strong>em</strong> O despertar<br />
151 Drowning itself brings to mind metaphorical analogies between f<strong>em</strong>ininity and liquidity. As the f<strong>em</strong>ale body is<br />
prone to wetness, blood, milk, tears, and amniotic fluid, so in drowning the woman is immersed in the f<strong>em</strong>inine<br />
organic el<strong>em</strong>ent. Drowning thus becomes the traditionally f<strong>em</strong>inine literary death.<br />
152 Edna Pontellier definitively (if only for a moment) ‘becomes’ the powerful goddess of love and art into whose<br />
shape she was first ‘born’ in the Gulf near Grand Isle and in whose image she will be suicidally borne back into the<br />
sea at the novel’s end.<br />
160