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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

mostramos anteriormente, Adèle Ratignolle é a encarnação da beleza segun<strong>do</strong> os padrões<br />

românticos. Já Edna não t<strong>em</strong> esta característica. O narra<strong>do</strong>r a caracteriza como bonita,<br />

mas não como bela. E sua figura, <strong>em</strong> vários pontos da narrativa, não chega ao padrão de<br />

Adèle. O narra<strong>do</strong>r identifica <strong>em</strong> Edna um “charme físico”, cujas linhas <strong>do</strong> corpo eram<br />

“esguias, b<strong>em</strong>-pronunciadas e simétricas; um corpo que ocasionalmente assumia poses<br />

esplêndidas” 112 (CHOPIN, 1994, p. 27). Como se vê, não é identifica<strong>do</strong> <strong>em</strong> Edna nada de<br />

superioridade física. Apenas o personag<strong>em</strong> Victor Lebrun enxerga <strong>em</strong> Edna uma figura de<br />

deusa, mas essa imag<strong>em</strong> é fruto da mente <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> que se deixa impressionar com o<br />

jantar ofereci<strong>do</strong> por Edna e quan<strong>do</strong> a narrativa mostra que a própria Edna já a<strong>do</strong>tou um<br />

comportamento novo.<br />

Ainda <strong>em</strong> contraste com a figura da Mulher-Mãe, Edna não dá aos filhos a atenção<br />

esperada e n<strong>em</strong> o zelo e a dedicação, exigi<strong>do</strong>s pelos padrões patriarcais, ao mari<strong>do</strong> e à<br />

casa, o espaço visto como o santuário familiar. Seus filhos, <strong>em</strong> várias situações, ou estão<br />

entregues aos cuida<strong>do</strong>s de uma <strong>em</strong>pregada ou sob a custódia de Adèle ou da avó paterna,<br />

a mãe <strong>do</strong> Sr. Pontellier. Há momentos <strong>em</strong> que Edna se sente aliviada por estar longe da<br />

presença <strong>do</strong>s filhos: “A ausência deles [os filhos] era-lhe uma espécie de alívio, apesar de<br />

não admiti-lo, n<strong>em</strong> mesmo para si própria. Isso parecia libertá-la de uma responsabilidade<br />

que assumira cegamente e para a qual o Destino não a preparara” 113 (CHOPIN, 1994, p.<br />

32).<br />

Uma das discussões entre Edna e Adèle diz respeito ao fato de Edna afirmar que<br />

não é capaz de se sacrificar <strong>em</strong> nome <strong>do</strong>s filhos: “Edna disse a Madame Ratignolle, certa<br />

vez, que jamais se sacrificaria por seus filhos, ou por qu<strong>em</strong> quer que seja” 114 (CHOPIN,<br />

1994, p. 67). Diante dessa afirmação da amiga, Adèle é categórica <strong>em</strong> sua fala de entrega<br />

total aos filhos: “[...] mas uma mulher que daria sua vida por seus filhos não poderia fazer<br />

mais <strong>do</strong> que isso... sua Bíblia diz assim. Estou certa de que eu não poderia fazer mais que<br />

isso” 115 (CHOPIN, 1994, p. 67). Embora Edna não consiga explicar melhor o seu<br />

112 “The lines of her body were long, clean and symmetrical; it was a body which occasionally fell into splendid poses;<br />

there was no suggestion of the trim, stereotyped fashion-plate about it. A casual and indiscriminating observer, in<br />

passing, might not cast a second glance upon the figure” (CHOPIN, 2006, p. 894).<br />

113 “Their absence was a sort of relief, though she did not admit this, even to herself. It se<strong>em</strong>ed to free her of a<br />

responsibility which she had blindly assumed and for which Fate had not fitted her” (CHOPIN, 2006, p. 899).<br />

114 “Edna had once told Madame Ratignolle that she would never sacrifice herself for her children” (CHOPIN, 2006,<br />

p. 929).<br />

115 “[…]but a woman who would give her life for her children could <strong>do</strong> no more than that— your Bible tells you so.<br />

I’m sure I couldn’t <strong>do</strong> more than that” (CHOPIN, 2006, p. 929).<br />

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