Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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parecia ter se perdi<strong>do</strong> por diluição” 105 (CHOPIN, 1994, p. 15). Ao contrário da amiga<br />
americana, Adèle é parte desse grupo étnico e o representa muito b<strong>em</strong>.<br />
Em um artigo intitula<strong>do</strong> “Creole women”, Mary L. Shaffter identifica algumas<br />
características das mulheres creole. Segun<strong>do</strong> Shaffter, elas seriam conserva<strong>do</strong>ras, belas e<br />
ligadas ao lar. Ao definir as esposas desse grupo, Shaffter usa as seguintes palavras:<br />
“Como esposas, as mulheres creolas são insuperáveis; aman<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> verdadeiras, elas<br />
quase nunca figuram <strong>em</strong> escândalos <strong>do</strong>mésticos” 106 (SHAFFTER, 1994, p. 138). Elas<br />
ainda são identificadas como boas <strong>do</strong>nas de casa e têm grande quantidade de filhos. E<br />
como mães, “Elas são mães carinhosas e amorosas, importan<strong>do</strong>-se com a saúde e a beleza<br />
<strong>do</strong>s seus filhos” 107 (SHAFFTER, 1994, p. 138). Como última característica, essas<br />
mulheres não possuiriam interesse no setor político, principalmente no que se refere aos<br />
direitos da mulher: “Direitos das mulheres, para elas, são o direito de amar e ser<strong>em</strong><br />
amadas, e de nomear<strong>em</strong> seus filhos, <strong>em</strong> vez de [nomear<strong>em</strong>] o próximo presidente ou<br />
oficiais da prefeitura” 108 (SHAFFTER, 1994, p. 139). Como se percebe pelas citações<br />
referidas acima, esse tipo de mulher estava completamente envolvida <strong>em</strong> suas funções<br />
como mãe e esposa.<br />
No <strong>do</strong>mínio da ideologia patriarcal o papel da mulher é defini<strong>do</strong> <strong>em</strong> relação ao<br />
casamento e à maternidade, cujo ápice é a valorização da família. No texto de Chopin,<br />
Adèle Ratignolle é o ex<strong>em</strong>plo perfeito da Mulher-Mãe, um ser que incorpora os <strong>do</strong>is<br />
papéis <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s. A sua compleição física e seu comportamento satisfaz<strong>em</strong> os ideais da<br />
heg<strong>em</strong>onia patriarcal. A definição dada por Edna para esta personag<strong>em</strong>, “Ma<strong>do</strong>na<br />
sensual”, mostra que Adèle representa a encarnação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> criada pelo<br />
patriarcalismo: ela possui a pureza e a sexualidade que faz<strong>em</strong> com que a mulher seja a<br />
imag<strong>em</strong> de satisfação <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>. Dividin<strong>do</strong> a expressão, entende-se que “Ma<strong>do</strong>na”<br />
incorpora o ideal de mãe, e “sensual” evidencia a fonte de prazer <strong>do</strong> masculino. O<br />
<strong>Despertar</strong> aponta para isso, ao focalizar Adèle. As suas ações são movidas para satisfazer,<br />
primeiramente, o mari<strong>do</strong> e, depois, os filhos. Ao mostrar a perfeita união marital entre<br />
Adèle e o mari<strong>do</strong>, o romance reforça o apagamento dela como mulher para dar destaque<br />
105 “She was an American woman, with a small infusion of French which se<strong>em</strong>ed to have been lost in dilution”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 884).<br />
106 “As wives, creole women are without superiors; loving and true, they sel<strong>do</strong>m figure in <strong>do</strong>mestic scandals”.<br />
107 “They are tender, loving mothers, they care for the health and beauty of their children”.<br />
108 “Women’s rights, for th<strong>em</strong>, are the rights to love and be loved, and to name the babies rather than the next<br />
president or city officials”.<br />
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