Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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A solidão de Edna Pontellier<br />
refletida nos modelos <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong><br />
Embora tenha como cenário uma área heterogênea <strong>do</strong> território americano, New<br />
Orleans, O <strong>Despertar</strong> está inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma sociedade conserva<strong>do</strong>ra e cheia de moralismo.<br />
A narrativa de Kate Chopin procura questionar certos valores solidifica<strong>do</strong>s na Louisiana<br />
romântica pós-escravocrata, onde um novo tipo de mulher – “The New woman”, descrita<br />
por Sally Leddger (1997) – buscava aflorar, obscurecen<strong>do</strong> uma constituição f<strong>em</strong>inina<br />
anterior, fruto <strong>do</strong> que se conhece como Era Vitoriana.<br />
Ainda que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s já não foss<strong>em</strong> mais parte da coroa inglesa, a América<br />
recebia influência da ex-coroa. É por isso que se pode afirmar que o texto traz um<br />
diálogo, mesmo que de forma questiona<strong>do</strong>ra, com o momento histórico conheci<strong>do</strong> como<br />
a Era Vitoriana. A sociedade da Era Vitoriana (que corresponde ao t<strong>em</strong>po de reina<strong>do</strong> da<br />
Rainha Vitória, que vai de 1837 a 1901) deu aos ingleses e a suas (ex)-colônias um<br />
momento de grande crescimento econômico, mas também criou certos paradigmas<br />
retrógra<strong>do</strong>s. O moralismo conserva<strong>do</strong>r da Era Vitoriana apregoava um rigor excessivo<br />
nas questões ligadas à decência e à moral, com especial controle das práticas sexuais,<br />
dan<strong>do</strong> atenção re<strong>do</strong>brada à conduta social e sexual das mulheres. Esta mentalidade<br />
conserva<strong>do</strong>ra se reflete nos papeis sociais daquela sociedade. No centro de complexidade,<br />
a figura da mulher vitoriana foi criada. A ela caberia o papel de mãe ex<strong>em</strong>plar e de boa<br />
esposa. É o que se chamou, anos depois, de “Anjo <strong>do</strong> lar”. A escritora Virginia Woolf, <strong>em</strong><br />
um ensaio intitula<strong>do</strong> “Profissões para mulheres”, descreve b<strong>em</strong> essa figura angelical 88.<br />
Segun<strong>do</strong> Woolf, o “Anjo <strong>do</strong> lar”<br />
[...] era intensamente compassiva. Era imensamente encanta<strong>do</strong>ra. Era<br />
profundamente abnegada. Ela <strong>do</strong>minava todas as difíceis artes da vida<br />
familiar. Sacrificava-se diariamente [...] A pureza era considerada sua maior<br />
beleza – o rubor de suas faces, sua graça maior. Naqueles dias – os últimos da<br />
Rainha Vitória – cada casa tinha o seu anjo (WOOLF, 1996, p. 43 – 44) (grifos<br />
nossos).<br />
88 Vale l<strong>em</strong>brar que termo usa<strong>do</strong> por Virginia Woolf foi originalmente cria<strong>do</strong> por Coventry Patmore, <strong>em</strong> um po<strong>em</strong>a<br />
de 1885, intitula<strong>do</strong> “The Angel in the house” (cf. GILBERT & GUBAR, 1985, p. 956).<br />
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