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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

suja <strong>do</strong> Garça Torta! A água, suja de restos, se derramara por cima dela” (REGO, 2003, p.<br />

236).<br />

O episódio final <strong>do</strong> romance, assim como o que é cria<strong>do</strong> no romance de Kate<br />

Chopin, aponta a dupla significação das águas – a vida e a morte. Mas, se analisarmos<br />

detalhadamente esta parte da narrativa de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, fazen<strong>do</strong> referência a outras partes<br />

da obra que exploram as águas, ver<strong>em</strong>os que o significa<strong>do</strong> positivo deste el<strong>em</strong>ento – a<br />

vida – prevalece <strong>em</strong> relação ao senti<strong>do</strong> negativo – a morte. Aurélio Buarque de Holanda,<br />

no fragmento que se segue, mostra que, ao se jogar nas águas <strong>do</strong> mar, Edna de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong><br />

não tira a sua vida, mas procura uma nova escapatória para si:<br />

Quan<strong>do</strong> Nô lhe foge das mãos, quan<strong>do</strong> a natureza, para ela, fica mutilada,<br />

Edna, fugin<strong>do</strong> à vida, procura viver; nadan<strong>do</strong>, nadan<strong>do</strong>, envolvida pelo mar, vai<br />

<strong>em</strong> direção ao sol nascente, como se fosse ao encontro de Nô, que a chama<br />

para a vida (HOLANDA, 1991, p. 358).<br />

Em <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, o mar representa, na concepção <strong>do</strong>s outros personagens, o espaço<br />

tipicamente masculino, pois é dele que os homens tiram o sustento da casa, funcionan<strong>do</strong><br />

como ambiente de trabalho. De todas as mulheres <strong>do</strong> romance, apenas Edna/Eduarda se<br />

aventura nas águas <strong>do</strong> mar. Quanto à diferença ao mo<strong>do</strong> como o masculino e<br />

Edna/Eduarda faz<strong>em</strong> uso <strong>do</strong> espaço das águas, perceb<strong>em</strong>os que o masculino fica restrito<br />

ao espaço sobre as águas <strong>do</strong> mar, uma vez que eles estão s<strong>em</strong>pre sobre as suas jangadas.<br />

Já Edna/Eduarda utiliza o mar como espaço de lazer e prazer. Seu contato está reserva<strong>do</strong><br />

ao que está abaixo da superfície, uma vez que ela está constant<strong>em</strong>ente mergulhan<strong>do</strong> nas<br />

águas <strong>do</strong> mar de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>. Em senti<strong>do</strong> geral, os banhos da heroína simbolizam uma<br />

quebra com os padrões de gênero instituí<strong>do</strong>s por aquele espaço social, metonimiza<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

uma fala da personag<strong>em</strong> Aninha – “mulher não devia tomar banho de mar” (REGO,<br />

2003, p. 172). Segun<strong>do</strong> Gaston Bachelard, “[o] banho não passa de um esporte. Enquanto<br />

esporte, ele é o contrário da timidez f<strong>em</strong>inina” (1997, p. 36). Edna/Eduarda rompe com<br />

essa concepção, ao a<strong>do</strong>tar o banho como uma modalidade de ter autonomia, de se<br />

purificar, de encontrar prazer e ocupar o seu t<strong>em</strong>po de ociosidade. Esta ruptura é o índice<br />

<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida diferencia<strong>do</strong> que Edna/Eduarda escolhe para si.<br />

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