Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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Dois motivos <strong>em</strong>purram Edna/Eduarda para Carlos. O seu envolvimento com o<br />
engenheiro acontece depois que ela recebe uma carta de Ester, contan<strong>do</strong> sobre seu<br />
casamento com Roberto, seus <strong>do</strong>is filhos e sua nova vida na Argentina. É possível afirmar<br />
que a certeza de que Ester estava completamente longe <strong>do</strong> seu alcance faz com que<br />
Edna/Eduarda se lance <strong>em</strong> uma nova ligação amorosa. O outro motivo é o fato de Carlos<br />
não possuir a estereotipia <strong>do</strong>s homens com os quais Edna/Eduarda convive.<br />
Nasci<strong>do</strong>s na mesma localidade, Edna/Eduarda l<strong>em</strong>bra-se de Carlos quan<strong>do</strong> eles<br />
eram meninos, mas não d<strong>em</strong>onstra que eles tivess<strong>em</strong> proximidade. Por ser<strong>em</strong> de religiões<br />
diferentes – ela, protestante; ele, católico – os <strong>do</strong>is não conviveram quan<strong>do</strong> jovens. Além<br />
<strong>do</strong> mais, Carlos deixa o lugar para ir estudar fora: “[...] Carlos, o filho mais velho <strong>do</strong>s<br />
católicos romanos [...] Fora educa<strong>do</strong> fora [...] Falaram que estava num colégio de padres,<br />
estudan<strong>do</strong> de graça” (REGO, 2003, p. 107). O jov<strong>em</strong> representa para Edna/Eduarda uma<br />
possibilidade de se distanciar de tu<strong>do</strong> o que seu lugar representa. Por isso que, mesmo<br />
não aman<strong>do</strong> Carlos, ela casa-se com ele: “No fun<strong>do</strong>, Edna/Eduarda não amava o mari<strong>do</strong>.<br />
O que ela queria era fugir, retirar-se <strong>do</strong> meio infernal <strong>em</strong> que vivia” (REGO, 2003, p.<br />
108). O casamento é um escape da família e <strong>do</strong> meio sociocultural que causa tanta ojeriza<br />
<strong>em</strong> Edna/Eduarda.<br />
A mudança para Estocolmo, logo após o casamento, dá à personag<strong>em</strong> a sensação<br />
de liberdade, de fuga de uma prisão. Nos primeiros meses, sua vida na cidade grande é o<br />
oposto <strong>do</strong> que ela viveu no burgo. Ia a teatros, concertos, cin<strong>em</strong>a, mas s<strong>em</strong>pre associan<strong>do</strong><br />
o que faz por lá à sua ex-professora: “A música de Ester devia ser sua companheira<br />
preferida” (REGO, 2003, p. 109). Ela também encontra, como ver<strong>em</strong>os mais adiante,<br />
uma nova companhia que lhe abre possibilidades para se envolver com o mun<strong>do</strong> novo da<br />
capital. Mas o que marca a sua vivência com Carlos <strong>em</strong> Estocolmo é a certeza de que o<br />
mari<strong>do</strong> não representava nada de extraordinário para ela: “[O mari<strong>do</strong>] Era bom e ela<br />
verificava não amá-lo. Faltava-lhe um não sei quê, faltava-lhe uma coisa mínima, que ela<br />
não sabia o que era” (REGO, 2003, p. 113).<br />
Ao reconhecer-se solitária na companhia <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, Edna/Eduarda começa a se<br />
sentir culpada e hostilizar os carinhos dele. É neste momento que a personag<strong>em</strong> sente<br />
aversão ao contato sexual com Carlos: “Não gostava quan<strong>do</strong> Carlos a procurava para o<br />
amor. Via as preparações, os agra<strong>do</strong>s, as carícias <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, como se ele tivesse traman<strong>do</strong><br />
contra ela” (REGO, 2003, p. 108). Esse sentimento vai se agravan<strong>do</strong> à medida que o<br />
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