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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

abraço” 176 (CHOPIN, 1994, p. 150). No primeiro trecho, quan<strong>do</strong> Edna ainda está<br />

inician<strong>do</strong> seu aprendiza<strong>do</strong> na água, o mar lhe oferece alento tanto para o corpo quanto<br />

para a alma, agin<strong>do</strong>, assim, na duplicidade que a heroína apresenta – a alma, o seu interior,<br />

e o corpo, o que lhe é externo. Já na cena final, quan<strong>do</strong> Edna dá o último mergulho no<br />

Golfo <strong>do</strong> México, as águas envolv<strong>em</strong> o que é perecível – o corpo – anuncian<strong>do</strong> uma<br />

possível morte da protagonista e deixan<strong>do</strong> divisar a possibilidade de salvação da parte<br />

imaterial de Edna – a alma.<br />

Além de despertar o senti<strong>do</strong> olfativo (através <strong>do</strong> aroma), o auditivo (através da<br />

voz) e o tátil (com o abraço) o mar ainda prende os olhos da heroína: “Edna Pontellier<br />

correu o olhar ao re<strong>do</strong>r e finalmente o fixou na cont<strong>em</strong>plação da água. O dia estava<br />

límpi<strong>do</strong> e conduzia o olhar até o limite <strong>do</strong> céu azul [...]” 177 (CHOPIN, 1994, p. 28). Da<br />

visualização das águas, <strong>em</strong> junção com o céu azul e com o vento <strong>do</strong> verão, a m<strong>em</strong>ória da<br />

protagonista traz para o presente a l<strong>em</strong>brança de uma imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> Edna<br />

era criança e corria pelos pra<strong>do</strong>s de uma fazenda no Kentucky. Embora a própria<br />

protagonista não veja “qualquer conexão que [...] possa identificar” 178 (CHOPIN, 1994, p.<br />

29) entre os <strong>do</strong>is momentos – o presente de cont<strong>em</strong>plação das águas e o passa<strong>do</strong> <strong>em</strong> que<br />

Edna corre pelos pra<strong>do</strong>s –, estes <strong>do</strong>is momentos são significativos para entendermos o<br />

processo de despertar pelo qual Edna passa. Aquela imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> mostra uma<br />

Edna jov<strong>em</strong> fugin<strong>do</strong> das convenções religiosas – ela se afastava <strong>do</strong> ambiente da igreja<br />

para deixar-se tragar pela plantação – já a cont<strong>em</strong>plação das águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México<br />

mostra a busca de Edna Pontellier por um novo espaço social. A visão da juventude<br />

espelhada nas águas <strong>do</strong> mar reflete o interior de Edna que começa a querer fugir das<br />

convenções sociais que ela estava acostumada a aceitar. Assim sen<strong>do</strong>, pod<strong>em</strong>os inferir que<br />

as vontades de Edna são refletidas nas águas <strong>do</strong> mar, numa espécie de espelho imagético.<br />

A associação criada pela protagonista, entre a cena <strong>em</strong> que percorria os pra<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Kentucky e a que o mar lhe oferece no momento presente, serve de mote para reforçar a<br />

angústia de Edna Pontellier <strong>em</strong> toda a narrativa: a busca por um lugar de pertencimento<br />

que vai ser simbolizada pelo infinito. Isto é, como reforçamos anteriormente, Edna não<br />

encontra <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> se espelhar, não ten<strong>do</strong> um porto que lhe assegure aceitação, mas, ao<br />

176 “The touch of the sea is sensuous, enfolding the body in its soft, close <strong>em</strong>brace” (CHOPIN, 2006, p. 1000)<br />

177 “Edna Pontellier, casting her eyes about, had finally kept th<strong>em</strong> at rest upon the sea. The day was clear and carried<br />

the gaze out as far as the blue sky went […]”(CHOPIN, 2006, p. 895).<br />

178 “without any connection that I can trace” (CHOPIN, 2006, p. 896).<br />

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