Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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mar, n<strong>em</strong> a terra, tinham mais encantos para ela. E outra vez o vazio, a sensação de mil<br />
anos vivi<strong>do</strong>s, de gerações e gerações passadas pelo seu corpo e pela sua alma” (REGO,<br />
2003, p. 188 – 189). Os dias de prazer que Saul lhe ofereceu duraram tão pouco que ela<br />
apenas sentia o processo pelo qual “[p]assara, com brilho, de camponesa a moça da<br />
capital” (REGO, 2003, p. 110). Com Nô, ela encontra uma completude t<strong>em</strong>porária, que<br />
desgraçadamente não se prolonga devi<strong>do</strong> à fraqueza que o <strong>em</strong>barcadiço d<strong>em</strong>onstra ao não<br />
conseguir enfrentar as forças de sua avó Aninha:<br />
[Nô] Tinha sabi<strong>do</strong> que havia o amor, e agora tinha que fugir <strong>do</strong> amor. Não era<br />
que ele quisesse. Pela sua vontade correria da velha [Aninha] e iria cair nos<br />
braços de Edna, iria correr o mun<strong>do</strong> com ela. Pensava naquilo um minuto, um<br />
instante, só. E logo chegava o me<strong>do</strong>, o pavor, o castigo que ele não sabia como<br />
era e o abafava, o torturava como um negro cativo (REGO, 2003, p. 110).<br />
A trajetória das duas protagonistas, Edna Pontellier e Edna/Eduarda, <strong>do</strong>s<br />
romances O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, mostra que ambas percorr<strong>em</strong> suas histórias<br />
solitariamente. Não há qu<strong>em</strong> as compreenda e as escolt<strong>em</strong> nas trajetórias de cada uma <strong>em</strong><br />
particular. Cada passo que dão constitui um desvio <strong>do</strong> que a sociedade patriarcal espera<br />
dessas figuras f<strong>em</strong>ininas. Portanto, como último recurso, elas experimentam um passo<br />
inusita<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is romances se fecham mostran<strong>do</strong> estas duas mulheres <strong>em</strong> meio<br />
às águas, <strong>em</strong> uma atitude que possibilita uma interpretação tanto de morte quanto de vida,<br />
como ver<strong>em</strong>os no capítulo seguinte.<br />
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