10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

típico desse ambiente líqui<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> identificada, abertamente, como sereia e/ou como<br />

peixe.<br />

A primeira referência que a narrativa apresenta da palavra mar é logo no início <strong>do</strong><br />

capítulo de abertura <strong>do</strong> romance. Para mostrar o mo<strong>do</strong> como certas coisas cativavam a<br />

personalidade de Edna/Eduarda ainda jov<strong>em</strong>, o narra<strong>do</strong>r explicita o fato de ela ser atraída<br />

pelo que estava distante dela, pelas coisas “que eram de outros mun<strong>do</strong>s” (REGO, 2003, p.<br />

40). Como objetos de desejo pertencentes aos “outros mun<strong>do</strong>s”, o narra<strong>do</strong>r aponta o<br />

seguinte: “os vesti<strong>do</strong>s, as carruagens, os príncipes, as princesas <strong>do</strong>s contos, era o mar, as<br />

estrelas <strong>do</strong> céu, era a boneca de sua amiga Norma” (REGO, 2003, p. 40). Analisan<strong>do</strong> os<br />

objetos de desejo da protagonista, pod<strong>em</strong>os dividir o que é elenca<strong>do</strong> como pertencente a<br />

<strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s distintos – um mun<strong>do</strong> de sonho e fantasia, próprio da idade da jov<strong>em</strong><br />

Edna/Eduarda (as carruagens, os príncipes, as princesas <strong>do</strong>s contos), e outro pertencente<br />

ao mun<strong>do</strong> real (os vesti<strong>do</strong>s, o mar, as estrelas <strong>do</strong> céu, a boneca de Norma). Do mun<strong>do</strong><br />

objetivo, a narrativa mostra Edna/Eduarda ten<strong>do</strong> acesso a <strong>do</strong>is objetos: a boneca e o mar.<br />

Ela rouba a boneca de Norma e consegue usufruir <strong>do</strong> fugaz prazer que a companhia da<br />

Espanhola lhe dá, mas, a contragosto, t<strong>em</strong> que devolvê-la a Norma. Já o mar v<strong>em</strong> como<br />

uma conquista da heroína que não será perdi<strong>do</strong> no final da narrativa.<br />

Ainda nesse primeiro capítulo, a narrativa apresenta uma expressão, usan<strong>do</strong> a<br />

palavra mar, que traz <strong>em</strong> si o senti<strong>do</strong> de ganhar experiência, de conquistar o que está<br />

distante, de deixar o espaço primeiro para se chegar a outro. Ao falar sobre o pai da amiga<br />

Norma, Edna/Eduarda o contrasta com seu próprio pai, mostran<strong>do</strong> que o pai da amiga é<br />

corajoso e aventureiro, características que se distanciam de seu pai que possui “ar de<br />

venci<strong>do</strong>, de mendigo, de rei de batalhas perdidas” (REGO, 2003, p. 55). Toda a<br />

superioridade <strong>do</strong> pai de Norma, a qu<strong>em</strong> a protagonista chama de capitão Blood, v<strong>em</strong> de<br />

sua “força para cruzar os mares, trazer ouro, enriquecer a família” (REGO, 2003, p. 55).<br />

O “cruzar os mares” liga-se especificamente ao masculino que, como já apontamos<br />

anteriormente, utiliza-se da superfície das águas <strong>do</strong> mar para atingir o desconheci<strong>do</strong> e<br />

fazer suas conquistas. Mas esta narrativa de José Lins <strong>do</strong> Rego mostra que Edna/Eduarda<br />

cruza os mares para atingir suas conquistas, atravessan<strong>do</strong> um espaço reserva<strong>do</strong> ao<br />

masculino. Singrar os mares é um estágio momentâneo da heroína, mas já o estar<br />

mergulhada no mar é um esta<strong>do</strong> mais longo e significativo.<br />

196

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!