Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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está envolta de águas. Nesta perspectiva simbólica, as duas narrativas mostram que o<br />
mergulho final que estas mulheres <strong>em</strong>preend<strong>em</strong> constitui uma outra possibilidade de<br />
fugir<strong>em</strong> <strong>do</strong> que a terra firme representa, pois “na água tu<strong>do</strong> se ‘dissolve’ toda a ‘forma’ se<br />
desintegra, toda a ‘história’ é abolida, nada <strong>do</strong> que anteriormente existiu subsiste após uma<br />
imersão na água nenhum perfil, nenhum ‘sinal’, nenhum acontecimento [...]” (ELIADE,<br />
1993, p. 158).<br />
Ao escolher<strong>em</strong> finalizar suas narrativas lançan<strong>do</strong> as protagonistas <strong>em</strong> um na<strong>do</strong><br />
solitário pelo mar, esses romances se coadunam com a simbologia que este el<strong>em</strong>ento<br />
líqui<strong>do</strong> carrega, pois, segun<strong>do</strong> Gaston Bachelard, “desaparecer na água profunda ou<br />
desaparecer no horizonte longínquo, associar-se à profundidade ou à infinidade, tal é o<br />
destino humano que extrai sua imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> destino das águas” (BACHELARD, 1997, p.<br />
14). Reafirmamos que, toman<strong>do</strong> como base a interpretação feita ao longo desse estu<strong>do</strong>, o<br />
na<strong>do</strong> final, para as mulheres protagonistas, mesmo se visto como morte, não pode ser<br />
entendi<strong>do</strong> com o senti<strong>do</strong> negativo, pois, como afirma Walter Benn Michaels: “a morte<br />
pelas águas, então, não marca um fracasso <strong>do</strong> desejo, mas a submersão nele e uma<br />
idealização dele [...] 231” (1990, p. 499). Nos <strong>do</strong>is romances, o mar representa o espaço<br />
capaz de comportar a voracidade, a vontade de completude que as duas personagens<br />
representam.<br />
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231 “Death by water thus marks not a failure of desire but a submersion in it and an idealization of it [...]”<br />
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