10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

das águas <strong>em</strong> seu corpo, pois “[a]s ondas lambiam as suas pernas”, num sinal de carícia<br />

mais profunda.<br />

À medida que a narrativa avança e a protagonista assume uma relação de<br />

intimidade com o litoral de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, as águas <strong>do</strong> mar ganham a significação de<br />

amante. Assim como acontece <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong>, levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta a simbologia das<br />

águas como el<strong>em</strong>ento <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, é possível afirmar que o mar pode ser visto, de início,<br />

como, usan<strong>do</strong> as mesmas palavras da crítica sobre Chopin, a representação de “um<br />

amante <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> metafórico para [Edna/Eduarda]” 229 (LEBLANC, 1996, p. 302),<br />

constituin<strong>do</strong> um prolongamento <strong>do</strong>s desejos da heroína. Mas o mo<strong>do</strong> como a narrativa de<br />

José Lins trata o mar e sua relação de intimidade com a protagonista mostra que as águas<br />

que constitu<strong>em</strong> esse espaço são erotizadas de maneira a apresentá-las como masculinas,<br />

forman<strong>do</strong> com a protagonista um par romântico e sensual:<br />

A água era como se fosse morna. E deixava-se possuir pelo amante que lhe<br />

beijava os pés, as coisas, os seios. [...] O mar estava ali lamben<strong>do</strong> o seu corpo e<br />

Edna se dava a ele como nunca se entregara a ninguém. Nadava até quase os<br />

arrecifes, confundida com as águas, boian<strong>do</strong> com o sol no rosto. Fechava os<br />

olhos, e minutos e minutos ficava ao léu das ondas. Quan<strong>do</strong> voltava a si,<br />

daquele amor, era tarde (REGO, 2003, p. 158) (Grifos nossos).<br />

A noção de que o contato <strong>do</strong> corpo da protagonista com o mar constitui o toque<br />

de um amante se concretiza quan<strong>do</strong> Edna/Eduarda, durante uma festa na cidade<br />

próxima, dança com alguns mora<strong>do</strong>res da localidade e compara o toque daqueles homens<br />

com o que lhe ocorria quan<strong>do</strong> sentia as águas <strong>do</strong> mar acarician<strong>do</strong> a sua pele: “Sentiu as<br />

pernas de seus pares nas suas, o corpo de gente morena pega<strong>do</strong> a ela. Aquilo tinha<br />

qualquer coisa <strong>do</strong> mar e <strong>do</strong> sol que a possuíam na praia” (REGO, 2003, p. 163). Em<br />

outro momento, a confirmação de que o mar é um amante se concretiza quan<strong>do</strong> a<br />

narrativa mostra que Edna/Eduarda funde o ambiente marítimo com Nô. Em diferentes<br />

passagens a protagonista deixa explícito que estar no mar é estar com o <strong>em</strong>barcadiço Nô:<br />

“Descia para o mar, para sentir nas águas o corpo quente de Nô” (REGO, 2003, p. 223);<br />

“Tê-lo [Nô] no seu corpo como tivera a água <strong>do</strong> mar verde, sentir que ele a cobria toda<br />

como as ondas na areia” (REGO, 2003, p. 224); “Os cabelos negros [de Nô] tinham<br />

ondas como o mar” (REGO, 2003, p. 229); “Vinham ondas morrer aos seus pés: a língua<br />

229 “as a metaphorical f<strong>em</strong>ale lover for Edna”.<br />

198

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!