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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

companhia que me agrade, por outro la<strong>do</strong> tenho aqui uma coisa que vale por todas: o<br />

mar” (REGO, 2003, p. 174). Tal como já ocorreu com a presença de Ester <strong>em</strong> sua vida, a<br />

companhia <strong>do</strong> mar, para a heroína, constitui a fonte primeira de prazer: “O mar, sinto-o<br />

meu, como se fosse meu, pois só eu me meto nele para gozar as suas águas” (REGO,<br />

2003, p. 181). O que o mar oferece a Edna/Eduarda é tão intenso que é ele qu<strong>em</strong> a torna<br />

uma mulher completa: “Quan<strong>do</strong> estou dentro d’água ou espichada na praia, tu<strong>do</strong> está<br />

bom. Sinto-me completa, uma mulher completa. Na<strong>do</strong>, <strong>do</strong>u expansão aos músculos,<br />

entrego-me ao mar, sou uma parte de sua fartura, <strong>do</strong> seu reino” (REGO, 2003, p. 182).<br />

Ao identificar o mar como fonte de prazer, a heroína acaba sexualizan<strong>do</strong>-o, graças<br />

ao mo<strong>do</strong> como ela se entrega completamente nua ao toque sensual das águas mornas:<br />

“Dentro d’água fora feliz, de uma felicidade s<strong>em</strong> limites. O mar a possuíra, e nua se dera<br />

ao mar” (REGO, 2003, p. 200). Desse mo<strong>do</strong>, estas águas tornam-se símbolo de<br />

fecundidade (cf. CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 15), fazen<strong>do</strong> com que o<br />

desejo sexual que instigava Edna/Eduarda crescesse quan<strong>do</strong> ela estava nua no interior <strong>do</strong><br />

mar: “Havia dentro de si um germe que crescia, que fecundava outros germes, que ia<br />

comen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>. Era a luxúria que se multiplicava, e agitava seu sangue, e <strong>do</strong>brava a sua<br />

vontade. A luxúria que era mansa e boa na água <strong>do</strong> mar” (REGO, 2003, p. 200). O mar<br />

ainda representa desejo sexual quan<strong>do</strong> nele a heroína se entrega ao mari<strong>do</strong> s<strong>em</strong> nenhum<br />

sentimento de nojo ou repugnância, fato incomum no restante da narrativa:<br />

A praia era um deserto: nenhuma criatura, nenhum animal dan<strong>do</strong> sinal de vida.<br />

[Carlos] Aproximava-se [de Edna], chegava-se, e o leito de areia virava leito<br />

nupcial. Com o céu por cima deles e aquela riqueza de mar e luz, ele amava,<br />

atingia aos seus prazeres máximos. [...] Amavam-se como <strong>do</strong>is animais <strong>do</strong> bom<br />

Deus (REGO, 2003, p. 162).<br />

Segun<strong>do</strong> o Dicionário de Símbolos, uma das significações da água é a característica de<br />

ser um “instrumento de purificação” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 16).<br />

Na da narrativa de José Lins <strong>do</strong> Rego, o mar carrega este senti<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> Edna/Eduarda<br />

usa as suas águas para se purificar <strong>do</strong> sentimento de sujeira que o sexo força<strong>do</strong> com o<br />

mari<strong>do</strong> lhe causa. Em <strong>do</strong>is momentos, depois de ser agredida sexualmente pelo mari<strong>do</strong>, a<br />

protagonista recorre ao mar para se livrar da sensação de sujeira e imundice que tal<br />

agressão lhe causa. No primeiro momento, depois de ser rejeita<strong>do</strong> pela esposa e depois de<br />

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