Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
de saúde, uma vez que este lugar era uma forma de fugir <strong>do</strong> calor e das <strong>do</strong>enças<br />
diss<strong>em</strong>inadas na cidade durante o verão. Há, ainda, a ideia inocente de associação <strong>do</strong> mar<br />
com a descoberta de um eu interior. Por tu<strong>do</strong> isso, deve-se ler a possível ideia de suicídio<br />
de Edna <strong>em</strong> Grand Isle como a libertação da protagonista que se entrega a qu<strong>em</strong> ela quer,<br />
que toma nas mãos seu próprio destino. Dessa forma, jogan<strong>do</strong>-se nos braços envolventes<br />
<strong>do</strong> mar, Edna faz viver o seu desejo de realização como “ser humano” 219 (CHOPIN,<br />
1994, p. 25).<br />
Por tu<strong>do</strong> o que consideramos na nossa leitura <strong>do</strong> romance de Kate Chopin, a<br />
entrega de Edna ao mar pode ser lida tanto como morte quanto como nascimento: é a<br />
morte de uma mulher que se vê tragada pelas convenções e obrigações impostas a ela pelo<br />
sist<strong>em</strong>a patriarcal que não lhe dá o direito de decidir os rumos de sua vida; mas é<br />
nascimento/reafirmação de seus desejos interiores. Segun<strong>do</strong> Michael T. Gilmore, “Edna<br />
resolve cometer suicídio porque ela não pode encontrar espaço no presente sist<strong>em</strong>a social<br />
para o seu ser recém desperto” 220 (GILMORE, 1988, p. 62). O crítico afirma ainda que<br />
“Sua busca por completude própria, <strong>em</strong>bora termine <strong>em</strong> morte, é um ato de insurreição<br />
porque não há como o mun<strong>do</strong> <strong>em</strong> que ela habita acomodar a mudança ocorrida nela” 221<br />
(GILMORE, 1988, p. 62). De forma s<strong>em</strong>elhante, Judith Fryer afirma que “Edna escolhe<br />
morrer porque é o único e decisivo ato de livre arbítrio aberto para ela através <strong>do</strong> qual ela<br />
pode escapar daqueles que a derrubam. Tornan<strong>do</strong>-se uma com o mar ela está livre” 222<br />
(FRYER, 1976, p. 257-58). A estudiosa também concebe a morte de Edna como “um<br />
tipo de renascimento” 223, como a fuga de “um mun<strong>do</strong> que não t<strong>em</strong> lugar para ela” 224<br />
(FRYER, 1976, p. 58).<br />
Mas a entrega de Edna ao mar também é o nascimento de uma nova criatura, uma<br />
vez que ela, diante das águas, “[s]entia-se como uma criatura recém-nascida, abrin<strong>do</strong> os<br />
olhos para o mun<strong>do</strong> familiar que jamais reconhecera” 225 (CHOPIN, 1994, 150). Nessa<br />
219 “human being” (CHOPIN, 2006, p. 893).<br />
220 “Edna resolves to commit suicide because she can find no room for her newly awakened self in the present social<br />
syst<strong>em</strong>”<br />
221 “Her quest for self-fulfillment, though it ends in death, is an insurrectionary act because there is no way for the<br />
world she inhabits to accommodate the change in her”<br />
222 “Edna chooses to die because it is the one, the ultimate act of free will open to her through which she can elude<br />
those who would drag her <strong>do</strong>wn. In becoming one with the sea she is free”<br />
223 “a kind of re-birth”.<br />
224 “a world which has no place for her”.<br />
225 “She felt like some new-born creature, opening its eyes in a familiar world that it had never known” (CHOPIN,<br />
2006, p. 1000).<br />
186