Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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si<strong>do</strong> sua existência até aquele verão <strong>em</strong> Grand Isle. Como é o mar que a duplicidade <strong>do</strong><br />
ser de Edna ouve, é inegável que é a voz sedutora deste el<strong>em</strong>ento que instiga a<br />
protagonista ao questionamento.<br />
Dev<strong>em</strong>os ressaltar que não é somente a voz <strong>do</strong> mar que exerce poder sobre as<br />
mudanças ou despertares de Edna; a narrativa apresenta outros el<strong>em</strong>entos que instigam a<br />
protagonista. Aliada a outros atrativos, como a companhia de Robert, a beleza de Adèle e<br />
a música de Reis, a melodia <strong>do</strong> mar forja <strong>em</strong> Edna o senso de percepção que a fará<br />
apreender “sua posição no universo como ser humano e reconhecer suas relações,<br />
enquanto indivíduo, com seu mun<strong>do</strong> interior e com o que a cercava” 170 (CHOPIN, 1994,<br />
p. 25). Essa percepção de si mesma e <strong>do</strong>s outros e das relações que se estabelec<strong>em</strong> entre<br />
eles é algo tão intenso que o narra<strong>do</strong>r chega a comparar o esta<strong>do</strong> epifânico pelo qual<br />
Edna passa com a Revelação dada pelo Espírito Santo: “Pode parecer oneroso far<strong>do</strong>, esta<br />
chegada da sabe<strong>do</strong>ria à alma de uma jov<strong>em</strong> mulher de vinte e oito anos – mais sabe<strong>do</strong>ria<br />
talvez <strong>do</strong> que a que o Espírito Santo admite conceder a qualquer mulher” 171 (CHOPIN,<br />
1994, p. 25). Nas águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México, Edna Pontellier encontra “o germe <strong>do</strong>s<br />
germes, todas as promessas de desenvolvimento” de que nos fala o Dicionário de símbolos<br />
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 15). O processo de aquisição <strong>do</strong><br />
conhecimento, segun<strong>do</strong> a ótica da personag<strong>em</strong>, envolve questões de gênero, uma vez que<br />
Edna reconhece estar <strong>em</strong> um nível de entendimento superior ao que é ofereci<strong>do</strong> “a<br />
qualquer mulher”. Dessa forma, a heroína se reconhece exercen<strong>do</strong> “certa posição [de<br />
destaque] dentro de uma [mesma] classe” (LAURETIS, 1994, p. 211) – a das mulheres.<br />
A terceira aparição da palavra “sedutora” ocorre no último capítulo <strong>do</strong> romance,<br />
referin<strong>do</strong>-se, novamente, à voz <strong>do</strong> mar, <strong>em</strong> uma sequência textual que repete o trecho<br />
cita<strong>do</strong> anteriormente: “A voz <strong>do</strong> mar é sedutora, incessante, sussurrante, clamante,<br />
murmurante, convidan<strong>do</strong> a alma a errar atrás de uma explicação <strong>em</strong> abismo de solidão” 172<br />
(CHOPIN, 1994, p. 150). As mesmas características apontadas anteriormente pod<strong>em</strong> ser<br />
170 “her position in the universe as a human being, and to recognize her relations as an individual to the world within<br />
and about her” (CHOPIN, 2006, p. 893).<br />
171 ‘This may se<strong>em</strong> like a ponderous weight of wis<strong>do</strong>m to descend upon the soul of a young woman of twenty-eight<br />
– perhaps more wis<strong>do</strong>m than the Holy Ghost is usually pleased to vouchsafe to any woman” (CHOPIN, 2006, p.<br />
893).<br />
172 “The voice of the sea is seductive, never ceasing, whispering, clamoring, murmuring, inviting the soul to wander<br />
in abysses of solitude” (CHOPIN, 2006, p. 999).<br />
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