Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
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el<strong>em</strong>ento líqui<strong>do</strong> e o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Se <strong>em</strong> Culpa<strong>do</strong>s as águas são usadas apenas <strong>em</strong> um <strong>do</strong>s<br />
capítulos, ironicamente chama<strong>do</strong> de “Uma solução leal” 153 (CHOPIN, 2005, p. 217), <strong>em</strong><br />
O <strong>Despertar</strong> este el<strong>em</strong>ento escoa, para usar uma palavra <strong>do</strong> campo s<strong>em</strong>ântico <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong>,<br />
<strong>em</strong> diferentes partes da narrativa, tornan<strong>do</strong>-se um símbolo inconteste <strong>do</strong>s múltiplos<br />
despertares da protagonista. O mar, portanto, é ponto de partida e de chegada na<br />
constituição <strong>do</strong> drama da figura f<strong>em</strong>inina. Essa circularidade no espaço narrativo aponta<br />
para a importância que o el<strong>em</strong>ento água possui no destino da heroína.<br />
O processo de aprendizag<strong>em</strong> que Edna vivencia nas águas <strong>do</strong> mar durante o<br />
perío<strong>do</strong> de veraneio <strong>em</strong> Grand Isle funciona como metáfora para toda uma ruptura com<br />
o modelo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> que a sociedade patriarcal mol<strong>do</strong>u para a mulher oitocentista,<br />
metonimiza<strong>do</strong> na figura de Adèle Ratignolle, como mostramos no capítulo anterior.<br />
Como se verá mais adiante, o mo<strong>do</strong> como o mar é descrito e a forma como a narrativa<br />
chama atenção para a maneira como Edna ganha <strong>em</strong>poderamento nas águas, conhecen<strong>do</strong><br />
o ambiente e ten<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio sobre o seu próprio corpo, anunciam ações <strong>em</strong>preendidas<br />
pela protagonista depois de sua volta para a cidade de New Orleans, quan<strong>do</strong> Edna<br />
procura seu próprio caminho: “[...] não quero nada além de meu próprio caminho. Isto é<br />
querer muito, é claro, quan<strong>do</strong> é preciso espezinhar as vidas, os corações, os preconceitos<br />
de outros... mas pouco importa” 154 (CHOPIN, 1994, p. 146).<br />
É possível afirmar, usan<strong>do</strong> referências <strong>do</strong> próprio romance, que a estória criada<br />
por Kate Chopin se passa entre o ano de 1892 e o de 1893. Em 1892 deu-se a fundação<br />
da New Orleans Folk Lore Society <strong>em</strong> 08 de fevereiro, sociedade da qual a filha da Senhora<br />
Highcamp faz parte: “A filha [da Senhora Highcamp] estava de saída para a reunião de<br />
uma seção da Sociedade <strong>do</strong> Folclore e lamentou não poder acompanhá-los [Edna e<br />
Alcée]” 155 (CHOPIN, 1994, p. 102). No ano seguinte à fundação da Sociedade <strong>do</strong><br />
Folclore, <strong>em</strong> outubro de 1893, uma t<strong>em</strong>pestade tropical devasta tanto a ilha de veraneio,<br />
Grand Isle, como Chênière Caminada (EWELL & MENKE, 2010, p. 4), <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s<br />
espaços onde o romance se passa. Ten<strong>do</strong> por base esses da<strong>do</strong>s históricos, pod<strong>em</strong>os fazer<br />
153 “A fateful solution” (CHOPIN, 2006, p. 861). Deveria ser traduzi<strong>do</strong> como “Uma solução <strong>do</strong> destino”.<br />
154 “[…] I <strong>do</strong>n’t want anything but my own way. That is wanting a good deal, of course, when you have to trample<br />
upon the lives, the hearts, the prejudices of others — but no matter-still […] (CHOPIN, 2006, 990)”<br />
155 The daughter [Mrs. Highcamp’ daughter] was just leaving the house to attend the meeting of a branch Folk Lore<br />
Society, and regretted that she could not accompany th<strong>em</strong> [Arobin Edna]” (CHOPIN, p. 2006, 958).<br />
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