Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
socializar, evitan<strong>do</strong> a companhia de outros, sejam eles seus vizinhos ou passantes. Ao<br />
comentar sobre as moradias da personag<strong>em</strong>, o narra<strong>do</strong>r frisa: “Algumas pessoas<br />
garantiam que o motivo para Mad<strong>em</strong>oiselle Reisz escolher apartamentos sob o telha<strong>do</strong> era<br />
desencorajar a aproximação de mendigos, pedintes e visitas” 132 (p. 84). O mo<strong>do</strong> como o<br />
espaço escolhi<strong>do</strong> por Reisz para viver é mostra<strong>do</strong> na narrativa ainda permite associar a<br />
sua moradia com o estereótipo da bruxa, uma er<strong>em</strong>ita que mora <strong>em</strong> castelos longínquos e<br />
sombrios ou que vive <strong>em</strong> torres altas.<br />
Na primeira caracterização da pianista, o narra<strong>do</strong>r começa mostran<strong>do</strong> as<br />
características de t<strong>em</strong>peramento e de falta de sociabilidade dela. Não há nada na descrição<br />
de seus atributos que a enalteça; pelo contrário, tu<strong>do</strong> procura chamar atenção para o la<strong>do</strong><br />
ruim da personag<strong>em</strong>: “Era uma mulherzinha desagradável, de meia idade, que se<br />
desentendia com quase to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> a um t<strong>em</strong>peramento belicoso e a uma<br />
disposição de atropelar os direitos alheios” 133 (CHOPIN, 1994, p. 40).<br />
Quanto à apresentação física da personag<strong>em</strong> por parte <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r, ele mostra<br />
Reisz como alguém desagradável:<br />
Era uma mulher s<strong>em</strong> atrativos físicos, de rosto e corpo pequenos e enruga<strong>do</strong>s e<br />
olhos febris. Não tinha o menor gosto no trajar e usava uma profusão de<br />
rendas pretas desbotadas com um ramalhete de violetas artificiais preso no la<strong>do</strong><br />
de seu cabelo 134 (CHOPIN, 1994, p. 40).<br />
O trecho exalta o caráter artificial e gasto de Reisz, além de fazer referências à falta<br />
de sincronia com as vestimentas f<strong>em</strong>ininas. Mas não é só nesta primeira aparição da<br />
personag<strong>em</strong> que o narra<strong>do</strong>r procura mostrá-la como feia e desagradável na aparência. Ele<br />
ainda usa, <strong>em</strong> capítulos seguintes, palavras que realçam o la<strong>do</strong> fisicamente degradante da<br />
personag<strong>em</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, ele qualifica seu sorriso como “riso deformante” ou “seu riso<br />
provocava a contorção de seu rosto” 135 (CHOPIN, 1994, p. 85). Ou, ainda, o narra<strong>do</strong>r<br />
procura mostrar que ela não muda sequer a sua roupa. No primeiro encontro de Edna e<br />
132 “Some people contended that the reason Mad<strong>em</strong>oiselle Reisz always chose apartments up under the roof was to<br />
discourage the approach of beggars, peddlars and callers” (CHOPIN, 2006, p. 944).<br />
133 “She was a disagreeable little woman, no longer young, who had quarreled with almost every one, owing to a<br />
t<strong>em</strong>per which was self-assertive and a disposition to trample upon the rights of others (CHOPIN, 2006, p. 905).<br />
134 She was a homely woman, with a small weazened face and body and eyes that glowed. She had absolutely no taste<br />
in dress, and wore a batch of rusty black lace with a bunch of artificial violets pinned to the side of her hair”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 905).<br />
135 “Her laugh consisted of a contortion of the face and all the muscles of the body” (CHOPIN, 2006, p. 944).<br />
131