10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

atingir os seus desejos interiores. Da mesma forma como Edna se mostra,<br />

inexplicavelmente, descobrin<strong>do</strong> s<strong>em</strong>pre novidades <strong>em</strong> seus sentimentos e ações, ela<br />

também se depara com a nova forma de encarar as águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México. Desse<br />

mo<strong>do</strong>, Edna Pontellier “repentinamente se dá conta de seus poderes e anda [nada]<br />

sozinha pela primeira vez, corajosa e confiant<strong>em</strong>ente” 181 (CHOPIN, 1994, p. 43).<br />

Embora ela tenha o auxílio de Robert e de outras pessoas para aprender a nadar, é<br />

sozinha, como mostra a citação acima, que Edna consegue, pela primeira vez, percorrer o<br />

ambiente líqui<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> total <strong>do</strong>mínio sobre o seu próprio corpo. A desenvoltura na água<br />

reflete toda uma postura de <strong>em</strong>poderamento que marca a protagonista ao longo <strong>do</strong><br />

romance. Mesmo identifican<strong>do</strong>, inicialmente, seus passos na água como uma ação infantil,<br />

este momento de descoberta, de “braçadas vigorosas”, confere à protagonista “algum<br />

poder de importância significativa” que parece lhe ter si<strong>do</strong> “outorga<strong>do</strong> para controlar o<br />

funcionamento de seu corpo e sua alma” 182 (CHOPIN, 1994, p. 43). Mais uma vez, a<br />

narrativa identifica <strong>em</strong> Edna Pontellier a existência de <strong>do</strong>is polos – o corpo e a alma – um<br />

exterior e outro interior. Na lógica da personag<strong>em</strong>, ter <strong>do</strong>mínio sobre as águas <strong>do</strong> mar faz<br />

com que ela tenha também <strong>do</strong>mínio sobre a sua dupla existência – a que se conforma e a<br />

que questiona – a interior e a exterior. Segun<strong>do</strong> Cristina Giorcelli, “[a]penas na água ela<br />

[Edna] experimenta a fusão <strong>do</strong> corpo e da alma, porque no el<strong>em</strong>ento formal-informal ela<br />

perde seu principium individuationis e seu ser físico parece tornar-se tão leve e livre e ‘s<strong>em</strong><br />

peso’ quanto o seu ser espiritual” 183 (1988, p. 119).<br />

Esse <strong>do</strong>mínio sobre as águas, sobre seu próprio corpo, e sobre sua dupla<br />

existência, instiga a heroína a buscar para si algo que não foi atingi<strong>do</strong> por nenhum outro<br />

ser de seu gênero: “Foi fican<strong>do</strong> ousada e dest<strong>em</strong>ida, superestiman<strong>do</strong> sua força. Queria<br />

nadar para longe, até onde mulher alguma jamais tivesse nada<strong>do</strong> antes” 184 (CHOPIN,<br />

1994, p. 43). Um <strong>do</strong>s vários trechos <strong>do</strong> romance que t<strong>em</strong> senti<strong>do</strong> gendra<strong>do</strong>, esta passag<strong>em</strong><br />

mostra o desejo de Edna de suplantar o espaço que está destina<strong>do</strong> ao <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>, buscan<strong>do</strong><br />

181 “who of a sudden realizes its powers, and walks for the first time alone, boldly and with over-confidence”<br />

(CHOPIN, 2006, p. 908).<br />

182 “A feeling of exultation overtook her, as if some power of significant import had been given her to control the<br />

working of her body and her soul” (CHOPIN, 2006, p. 908).<br />

183 “Only in water <strong>do</strong>es she experience a fusion of body and soul, because in the formal-informal el<strong>em</strong>ent she loses<br />

her principium individuationis and her physical self se<strong>em</strong>s to become as light and free and ‘weightless’ as her spiritual<br />

self”.<br />

184 “She grew daring and reckless, overestimating her strength. She wanted to swim far out, where no woman had<br />

swum before” (CHOPIN, 2006, p. 908).<br />

175

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!