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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

beber muito, Carlos “possuiu-a violentamente, com raiva, igual a um animal com fome”<br />

(REGO, 2003, p. 193). No outro dia logo ce<strong>do</strong> da manhã, Edna/Eduarda deixa sua casa à<br />

procura <strong>do</strong> mar para se livrar <strong>do</strong> sentimento de sujeira que a agressão de Carlos lhe<br />

provocara. Pela primeira vez, a sueca entrega-se às águas completamente nua, numa<br />

atitude que d<strong>em</strong>onstra desprendimento e confiança no poder das águas salgadas. A<br />

mesma cena se repetirá, agora com mais descrição nos detalhes, <strong>em</strong> outro momento.<br />

No segun<strong>do</strong> momento, depois que o seu caso com Nô foi descoberto pelo mari<strong>do</strong>,<br />

este, <strong>em</strong> um acesso de fúria e movi<strong>do</strong> pela bebida, agride sexualmente a esposa. O<br />

sentimento que o contato sexual violento com o mari<strong>do</strong> causa na personag<strong>em</strong> é de total<br />

aversão. No pensamento de Edna/Eduarda, o corpo de Carlos deixara “[l]ama pelo seu<br />

corpo. A água porca das sarjetas, tu<strong>do</strong> isso se derramava por cima dela. [...] Pelo seu<br />

corpo ele deixara toda a imundície da terra” (REGO, 2003, p. 269). Para ela, que tenta se<br />

“limpar” da agressão nas águas <strong>do</strong> chuveiro, apenas o mar e, <strong>em</strong> mais uma associação<br />

entre o mar e o seu amante, Nô poderiam deixá-la limpa outra vez: “Cair no mar e deixar<br />

que o mar lavasse o seu corpo. Só ele, Nô, só o mar e Nô poderiam dar jeito ao seu<br />

corpo, bati<strong>do</strong>, espanca<strong>do</strong>, sujo” (REGO, 2003, p. 269). Tão logo ela t<strong>em</strong> a chance de se<br />

atirar ao mar, ela, quase <strong>em</strong> atitude ritualística, despe-se novamente e cai nas águas<br />

salgadas para buscar purificação para seu corpo sujo pela violência <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>:<br />

O mari<strong>do</strong> havia-se espoja<strong>do</strong> <strong>em</strong> cima dela. Arrancou o vesti<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo, e o sol<br />

vestiu-a de luz – o corpo encardi<strong>do</strong>, os seios duros, as coxas alvas. Caiu na<br />

água. E voltou para a areia, deixan<strong>do</strong>-se ficar quieta, de olhos fecha<strong>do</strong>s, com o<br />

sol no rosto e as ondas nos pés. O mar roncava e os arrecifes descobertos<br />

espelhavam. Tu<strong>do</strong> aquilo era seu, era <strong>do</strong>na de tu<strong>do</strong>, <strong>do</strong> silêncio, da solidão<br />

(REGO, 2003, p. 272).<br />

O hom<strong>em</strong> [Nô] e o mar tinham fica<strong>do</strong> <strong>do</strong>nos dela. Lavara-se de tu<strong>do</strong>, e<br />

crescera outra vez até Deus (REGO, 2003, p. 290).<br />

A água boa lavava e a água boa dava força para o amor na beira <strong>do</strong> mar<br />

(REGO, 2003, p. 322).<br />

Identifican<strong>do</strong> o mar como as águas da limpeza e da purificação, Edna/Eduarda<br />

aponta o mari<strong>do</strong> como a representação das águas sujas e impuras, igualan<strong>do</strong>-o às águas da<br />

morte <strong>do</strong>s rios <strong>do</strong> lugar: “Mais uma vez se conformara com seu sacrifício [ser violentada<br />

sexualmente pelo mari<strong>do</strong>]. Estava imunda, com o corpo coberto de lama. Aquela água<br />

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