10.10.2013 Views

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

Já <strong>em</strong> <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>, a ligação entre Edna/Eduarda e Ester deve ser vista,<br />

essencialmente, como um desejo amoroso que a aluna nutre pela professora. Ester atrai<br />

Edna/Eduarda, primeiramente, pelo diferencial <strong>do</strong>s cabelos: “Eram os cabelos. Aqueles<br />

cabelos pretos luzin<strong>do</strong>, enchen<strong>do</strong> a vista, atrain<strong>do</strong> admiração. Os únicos cabelos pretos<br />

<strong>do</strong> lugar [...]” (REGO, 2003, p. 38). A narrativa de José Lins <strong>do</strong> Rego recupera toda uma<br />

tradição cultural que mostra o cabelo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> como el<strong>em</strong>ento poderoso no processo de<br />

sedução. A visão da cabeleira da professora provoca na aluna “a primeira impressão de<br />

beleza real que Edna sentira fort<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> sua vida” (REGO, 2003, p. 38). Pode parecer<br />

uma afirmação irrelevante, mas esta certeza de que o cabelo de Ester é a primeira<br />

impressão de beleza da protagonista se confirma se analisarmos as três partes que<br />

constitu<strong>em</strong> o livro <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>. Ele está dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> “Primeira parte: Ester”; “Segunda<br />

parte: <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>”; “Terceira parte: Nô”. Cada uma dessas divisões <strong>do</strong> romance indica<br />

as três fontes de beleza (ou prazer) que cativam a protagonista, constituin<strong>do</strong>-se na<br />

arquitetura ficcional <strong>do</strong> romance, ou seja, a escolha da divisão da narrativa <strong>em</strong> três partes,<br />

pelo próprio autor, aponta para um destaque da<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>is personagens que nomeiam a<br />

primeira e a terceira partes e para o lugar que dá nome a segunda parte da narrativa.<br />

Metonimiza<strong>do</strong> nos cabelos, Ester avizinha Edna/Eduarda de um mun<strong>do</strong> de<br />

fantasia cria<strong>do</strong> a partir das histórias contadas pela própria mãe da protagonista,<br />

simboliza<strong>do</strong> na boneca da amiga Norma, que viera de uma terra distante, a Espanha. A<br />

professora, com seu cabelo exótico, personifica esse mun<strong>do</strong> distante, aproximan<strong>do</strong><br />

Edna/Eduarda <strong>do</strong>s seus sonhos de menina e de sua busca incessante pelo prazer, que<br />

caracteriza a personag<strong>em</strong> ao longo de to<strong>do</strong> o romance.<br />

A primeira tentativa de Edna/Eduarda para conseguir prazer <strong>em</strong> algo é<br />

identificada na professora Ester, pois a primeira referência ao paraíso, ou ao lugar <strong>do</strong><br />

prazer, que o romance apresenta é associada à figura da professora Ester: “Edna só<br />

pensava nela [Ester]. Dormia, e os seus sonhos eram <strong>do</strong> paraíso, com aqueles cabelos<br />

pretos até a cintura, cabelos compri<strong>do</strong>s e quentes, de gente viva” (REGO, 2003, p. 41).<br />

Em um segun<strong>do</strong> momento, Edna/Eduarda estende o seu desejo para outras<br />

características físicas da professora: “Vinha um cheiro bom <strong>do</strong> corpo, <strong>do</strong> hálito de Ester<br />

quan<strong>do</strong> ela falava com ela” (REGO, 2003, p. 41). Em uma gradação, a amizade das duas<br />

vai se estreitan<strong>do</strong> e Edna/Eduarda sente-se possui<strong>do</strong>ra da professora: “Ester era dela.<br />

88

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!