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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

Focalizan<strong>do</strong> a voz interior de Amélia, o narra<strong>do</strong>r, através <strong>do</strong> discurso indireto-livre 40,<br />

mostra que a personag<strong>em</strong> compreende o que se passa a sua volta, a ruína que ronda o<br />

engenho da família, mas não pode fazer nada, pois não lhe é permiti<strong>do</strong> assumir o papel <strong>do</strong><br />

hom<strong>em</strong>, enquanto este ainda estiver vivo: “[Amélia] Tinha às vezes vontade de chamar o<br />

feitor e dar ordens, mas não queria irritar o mari<strong>do</strong>, era hom<strong>em</strong> que não podia se<br />

contrariar” (REGO, 1998, p. 164).<br />

No que se refere à perpetuação da construção de estereótipos 41 da mulher, Amélia<br />

é a figura da dama educada <strong>em</strong> colégio de freiras, que fala francês, toca piano e <strong>do</strong>mina os<br />

<strong>do</strong>tes <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s que a atmosfera patriarcal <strong>do</strong> romance constrói. A educação conferida à<br />

personag<strong>em</strong> não a diferencia da condição f<strong>em</strong>inina das outras mulheres que encontramos<br />

<strong>em</strong> Fogo morto. Amélia é, assim como as d<strong>em</strong>ais personagens f<strong>em</strong>ininas, submissa e passiva<br />

diante <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>. Esta condição de submissão e passividade propicia a Amélia tomar<br />

conhecimento das ações <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, já que está s<strong>em</strong>pre junto dele, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

desenvolver reflexões a respeito dessas ações, pois dela não é cobrada nenhuma reação<br />

diante das lutas de poder que são delegadas ao hom<strong>em</strong>.<br />

Na segunda parte <strong>do</strong> romance, devi<strong>do</strong> ao tipo de foco narrativo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, o texto<br />

privilegia a personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> detrimento <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> masculino. Como ocorre<br />

nas outras duas partes <strong>do</strong> romance, <strong>em</strong> “O Engenho de Seu Lula”, o narra<strong>do</strong>r está<br />

constant<strong>em</strong>ente utilizan<strong>do</strong> os pensamentos e reflexões <strong>do</strong>s personagens na tessitura <strong>do</strong><br />

texto. Mas nesta segunda parte <strong>do</strong> livro há diferença das duas outras. Aqui não são os<br />

pensamentos <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> masculino que pre<strong>do</strong>minam, como ocorre com José Amaro<br />

e Vitorino, mas os da personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina. Vejamos: os capítulos 1 e 2 usam os<br />

pensamentos <strong>do</strong> Capitão Tomás para narrar os primórdios e o apogeu <strong>do</strong> Santa Fé. O<br />

capítulo 3 é destina<strong>do</strong> aos pensamentos de D. Mariquinha e serve para compor o início da<br />

40 Segun<strong>do</strong> Othon M. Garcia, foi Charles Bally, <strong>em</strong> 1912, qu<strong>em</strong> primeiro nomeou esse tipo de discurso literário<br />

(1998, p. 164 - 165). Segun<strong>do</strong> Garcia, o “discurso indireto livre ou s<strong>em</strong>i-indireto apresenta características híbridas: a<br />

fala <strong>do</strong>s personagens ou fragmentos dela inser<strong>em</strong>-se discretamente no discurso indireto através <strong>do</strong> qual o autor relata<br />

os fatos” (1998, p. 165). Ao mostrar o uso desse tipo de discurso <strong>em</strong> autores brasileiros, Othon M. Garcia utiliza<br />

trechos da obra de Graciliano Ramos e de José Lins <strong>do</strong> Rego. Como ex<strong>em</strong>plo dessa técnica narrativa, t<strong>em</strong>-se uma<br />

citação <strong>do</strong> romance Usina, de José Lins. Em diferentes obras desse autor é possível identificar a utilização desse<br />

recurso narrativo.<br />

41 Quanto à definição de estereótipos envolven<strong>do</strong> as relações de gênero, nos pautamos no que diz Bonnici:<br />

“Estereótipos são conceitos, opiniões e crenças convencionais, geralmente muito simplificadas, que supostamente<br />

tipificam e se conformam a um modelo invariável e carente de qualquer individualidade. As representações culturais<br />

que estereotiparam e ainda estereotipam a mulher são consequência lógica da sociedade patriarcal. Na literatura e na<br />

mídia as mulheres ou são ausentes ou representadas <strong>em</strong> termos de sedução, objetos sexuais, f<strong>em</strong>inilidade,<br />

dependentes, consumi<strong>do</strong>ras e ocupadas com trabalho <strong>do</strong>méstico, enquanto os homens mostram independência,<br />

autoridade e <strong>do</strong>minância” (2007, p. 80).<br />

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